fonte: revista oeste news
Em razão da falta de isonomia no processo eleitoral, milhares de brasileiros ocuparam as portas dos quartéis espalhados pelo Brasil. Os manifestantes pedem às Forças Armadas que haja uma resolução para o impasse. Dentro do Exército, no entanto, os militares ainda não chegaram a um consenso sobre qual seria a solução adequada.
Para o coronel Fernando Montenegro, tal decisão dependerá de um acordo no Alto Comando das três Forças Armadas — Marinha, Aeronáutica e Exército. O militar afirmou, durante entrevista ao Oeste Sem Filtro, que existe a possibilidade de uma intervenção militar no país. Isso porque “muitos militares vão se sentir afrontados de prestar continência” para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), visto que o petista tem um passado ligado a diversos crimes.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Existe algum debate interno no Alto Comando das Forças Armadas sobre eventual intervenção militar?
Acredito que sim. Há uma discussão interna no Alto Comando das Forças Armadas. Alguns acreditam que sim, é hora de fazer alguma coisa mais assertiva, enquanto outros não parecem ser favoráveis a esse tipo de atuação.
Houve uma ruptura institucional no Brasil por parte do Supremo Tribunal Federal?
Essa ruptura já aconteceu há bastante tempo. A gente vem num processo que eu chamaria de golpe sistêmico. O Judiciário criou cambalhotas jurídicas para descondenar uma pessoa que tinha sido condenada por vários juízes. Na sequência, criou-se uma outra ruptura da Constituição, justamente calando a liberdade de várias pessoas. Criou-se um processo que, para o presidente Lula ser preso, tiveram de ser feitas várias delações, pilhas e pilhas de documentos etc. No entanto, nossos ministros da Suprema Corte podem prender a pessoa instantaneamente, né? Durante uma live, por exemplo. Até parlamentares, que tem a imunidade parlamentar garantida. Isso aí não foi respeitado. Depois, temos um TSE que adotou um lado partidário.
Como os militares que estão nos quartéis se sentem com essas manifestações?
Existem diferentes percepções. Acredito que muita gente é a favor de um tipo de ação assertiva. Outros ainda estão esperando não sei o que, algo como esticar a corda — mais do que já está esticada. Vou usar uma metáfora para comentar uma impressão minha e de outras pessoas. A França, na década de 1930, tinha um general muito famoso por serviços prestados, o Petain. Era conhecido como União de Verdun, um herói da França na Primeira Guerra Mundial. Era uma pessoa com uma ficha ilibada de serviços prestados ao país, tinha alto prestígio. Mas isso se tornou irrelevante quando a França foi invadida pela Alemanha. A França teve um desempenho patético na Segunda Guerra Mundial. E Petain, ao invés de combater, preferiu fazer um acordo com os nazistas. Aí, foi criado a República da França de Vichy, que era completamente subserviente aos nazistas, colaboracionista com os nazistas na deportação dos judeus para os campos de concentração. Então, Petain conseguiu ir para a história como um colaborador nazista. Em determinado momento histórico, o que algumas pessoas fizeram no passado se torna irrelevante. Elas têm de escolher um lado. E o Brasil hoje está em uma encruzilhada que é muito complicada. Não vejo como dar certo o statu quo que se pretende manter a partir do resultado dessa eleição “democrática”, que é uma eleição que se faz questão de manter inauditável. Então, não faz muito sentido. Acho que isso é a causa da indignação de vários brasileiros. Espero que, no Brasil, algumas pessoas não façam a opção de Petain.
O senhor acha que decisões judiciais ilegais devem ser cumpridas?
Quando a gente entra no Exército, a primeira coisa que a gente aprende é que ordem ilegal não se cumpre. E se alguém quer escalar a crise, você fala “tá bom, acho que essa ordem é ilegal”. Você pode até pedir a ordem por escrito e ver se a pessoa resolve escrever. Mas, em princípio, a gente não cumpre ordem ilegal.
Como os militares devem se comportar em crises institucionais?
Hoje em dia, existe uma pressão interna. Pode ser que ecloda alguma coisa antes de 12 de dezembro [quando Lula deve ser diplomado]. A probabilidade de isso acontecer ano que vem, caso o Lula tome posse, é bem maior. Várias pessoas não vão ter estômago, por exemplo, para prestar continência, para fazer uma Guarda de Honra para o Lula. E o pior, o presidente eleito está vindo acompanhado de um grupo da pior estirpe. Várias pessoas condenadas por crimes. Nas Forças Armadas e nas polícias, para você ingressar, tem de apresentar o atestado de bons antecedentes criminais. Como é que você vai imaginar na academia das Agulhas Negras, no evento de entrega dos padrinhos para os Cadetes, o Cadete fazer o juramento dele e ver, no palanque, um descondenado? Isso daí é uma coisa muito visceral para que seja aceito dentro das Forças Armadas. Então, a possibilidade de começar a ter problemas internos é muito grande.