Isso é Cinema

Emanoel Lacerda: ISTO É CINEMA
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Reportagem: Emanoel Lacerda

Isso é Cinema – Nada de Novo no Front (2022)

Nos últimos anos, a Netflix passou a apostar em cima da quantidade de produções que são adicionadas em seu catálogo. Semanalmente, filmes, séries, documentários e animações entram (como também saem) do serviço de streaming. Nessa empreitada de uma chuva de conteúdo para manter assinantes, passou a ser comum que a qualidade das obras que carregam o selo da produtora fosse insuficiente.

No entanto, o filme de guerra alemão ‘Nada de Novo no Front’, lançado diretamente no streaming em 28 de outubro, resgatou um pouco da qualidade que existia naquela recém Netflix de 2015 que estreou nos cinemas com o filme “Beasts of no Nation”.

Nada de Novo no Front é uma adaptação do livro homônimo escrito pelo veterano da Primeira Guerra Mundial, Erich Maria Remarque, e que foi adaptado para o cinema pela primeira vez em 1930 e depois em 1979. No filme de 2022, acompanhamos o jovem Paul Baumer e seus amigos que se alistam no exército alemão para combater os franceses na frente ocidental. Motivados pelo heroísmo e ainda em suas juventudes, mas desavisados sobre o horror e a lentidão de uma guerra de trincheiras.

Cobrindo diferentes momentos da vida de Paul durante os confrontos na frente ocidental, o diretor Edward Berger busca contar uma história não de um jovem que luta pela sua sobrevivência, mas que espera pelo retorno de seus camaradas para a terra natal também, o que torna este um filme bastante melancólico, à medida que a catarse de tragédias vai acontecendo. Sem dúvidas, por se tratar de um filme de guerra, não deixa de haver grandes e realistas tomadas retratando o desesperador combate dentro e fora das trincheiras, mas o filme também se permite para momentos de contemplação sobre amizade e a juventude.

Não seria impossível de se imaginar que esse projeto ganhou o aval da Netflix após o sucesso do filme ‘1917’, de Sam Mendes, que também retrata o mesmo período de guerra, mas na visão de um soldado britânico. Nada de Novo no Front parece beber da bela fotografia que Roger Deakins produziu no filme de Mendes.

Conforme o avanço do filme, o protagonista que iniciava hora animado para combater e triunfar sobre o inimigo, passa a se desiludir com a própria natureza da guerra e suas motivações. O longa reserva momentos para discutir isso em cima das figuras de negociantes alemães, como a do pacifista Matthias Erzberger, que buscavam um tratado de paz com os franceses, mas que eram repreendidos pelo orgulho e a então chamada honra de seus generais. Entretanto, o filme não foca muito nessa questão, e permanece com a maior parte da história centrada em Paul e seus companheiros que são vítimas dessas decisões que estão longe de seus alcances.

Ainda assim, esse é um aceno para filmes anti-guerra como ‘Glória Feita de Sangue’ do mestre Stanley Kubrick, onde o confronto é um pano de fundo para discussões mais profundas que o simples “heróis versus inimigos” que faz sucesso em Hollywood.

Eu sempre mantive a opinião que não é difícil de acertar com filmes de guerra, o que explica a variedade de produções que saem todos os anos e que abrangem diferentes períodos e eras da humanidade, mas é também essa quantidade de conteúdo que dificulta que uma obra seja lembrada e marcada na história, como foi com o épico ‘O Resgate do Soldado Ryan’, dirigido por Steven Spielberg. E quando colocamos essa nova versão de Nada de Novo no Front ao lado de filmes como o de Spielberg, ela talvez não brilhe tanto, mas inserida em um catálogo de produções cansado como o da Netflix, vale a pena exaltar esse filme alemão e o raro acerto do streaming americano.