Especialistas afirmam que moeda comum seria risco para o Brasil e só traria benefícios para a Argentina

Política
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fonte: terra brasil noticias

O anúncio da possível criação de uma moeda comum entre Argentina e Brasil despertou uma série de questões em relação a como o projeto funcionaria e se ele substituiria o real e o peso. Questionados sobre o assunto, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o líder argentino, Alberto Fernández, que se encontraram nesta semana para participar da 7ª cúpula da Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac), realizada na Argentina, declararam que não têm muitas informações sobre o assunto. 

“Não sabemos como funcionaria a moeda comum entre a Argentina e o Brasil, mas sabemos o que acontece com as economias nacionais tendo a necessidade de funcionar com moedas estrangeiras, e sabemos como isso é nocivo”, disse Fernández. 

Lula, por sua vez, chegou a dizer que se soubesse sobre o projeto, seria ministro da Fazenda e não presidente, porém, também ressaltou a necessidade de acabar com a dependência do dólar. 

A moeda comum gerou controvérsias sobre a necessidade de sua criação, inclusive dentro da própria equipe econômica do governo brasileiro, que não chegou a um consenso sobre a viabilidade da medida. Em entrevista ao site Poder 360, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a intensão da moeda é “driblar a dificuldade” dos argentinos com importações de produtos brasileiros, mas ressaltou que ela não irá substituir nem o peso nem o real. 

Em entrevista ao Portal Jovem Pan, a internacionalista pós-graduada em direito internacional Bárbara Paz enfatizou um ponto importante que tem sido confundido: a diferença entre moeda comum e moeda única. “Moeda única é a oficial no território dos países, caso isso acontecesse, acabariam as moedas de cada país, assim como acontece com o euro. A comum é uma unidade monetária para fazer negócios e negociações e não é utilizada nos territórios”, explica. “No caso de Brasil e Argentina seria moeda comum, mas ainda existiria o real e o peso”, acrescenta. 

Alberto Pfeifer, coordenador geral do DIS, grupo de análise de estratégia internacional da USP, falou sobre a complexidade do assunto. “A ideia de uma moeda única é ter uma moeda comum para todo tipo de transação, é como o euro na Europa. O que se fala para fazer aqui no Mercosul é algo inconcebível no presente momento, porque para ter uma moeda única comum entre vários estados soberanos, a gente tem que abrir mão da soberania”, explica o especialista, ressaltando que uma moeda é um atributo da soberania. 

“Nunca houve sucesso por falta de garantia dos bancos centrais, que preferem trabalhar com o dólar como moeda de referência”. 
Bárbara fala que o que muda dos dias de hoje para 15 anos atrás é que hoje a ideia está sendo trabalhada com mais ‘pé no chão’.  “Em 2008 já se falava em moeda única, mas era mais utópica, agora está com ideia de moeda comum, específica para transações comerciais”. 
Para o especialista em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) Amâncio Jorge de Oliveira, não tem muita diferença. “Esse projeto vem sendo falado desde Fernando Henrique Cardoso, mas com mais dificuldade hoje, porque a disparidade macroeconômica é maior agora. Só pegar o processo europeu para entender a dificuldade de convergência”, diz. “Se não for feito com o devido preparo, diria que nessas condições não tem nada de vantajosos e é ilusionário”, conclui.  

Os especialistas não veem com bons olhos a criação de uma moeda comum, pelo menos não agora. “Não traria benefícios para o Brasil, mas sim para Argentina. Para nós, seria mais um risco. Caso seja adotada essa moeda, o real seria o lacro da moeda e teríamos que absorver riscos atrelados a ela”, diz Bárbara, que considera esse projeto desnecessário porque já existe o dólar, além de não ser possível pensar em um projeto igual ao da União Europeia porque o cenário brasileiro é diferente, marcado por uma instabilidade política grande com muitos impeachments, golpes e histórico de ditadura.