Como Ortega empurrou milhares de nicaraguenses ao exílio? Entenda

Internacional
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fonte: terra brasil noticias

O ditador nicaraguense Daniel Ortega – Yamil Lage/Pool via Reuters/Reprodução.

Em uma quarta-feira, às 13h, em Los Guido, um subúrbio de San José, a capital da Costa Rica, a nicaraguense Martha Lira, também conhecida como Dona Martha, arrumou a mesa para me receber. Ela cobriu a mesa com um pano nas cores da Nicarágua, azul e branco, e sobre ele, espalhou camisetas com fotos de seu filho, Agustín Ezequiel Mendoza, alguns vasos de flores e duas velas. Segundo ela, essa é uma forma de preservar a memória e o legado de seu filho.

Agustín foi morto em junho de 2018, aos 22 anos, durante os protestos contra a Reforma da Previdência, que foram violentamente reprimidos pelo regime de Daniel Ortega. Conforme os protestos se espalhavam e ganhavam apoio, os manifestantes começaram a exigir também reformas democráticas no país.

A partir de 2018, Ortega intensificou a perseguição aos críticos do regime. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos estima que pelo menos 2.000 pessoas ficaram feridas e outras 355 morreram desde o início dessa crise política aguda na Nicarágua. Uma das vítimas foi a brasileira Raynéia Gabrielle Lima, que estudava medicina na capital e foi baleada enquanto dirigia em um bairro rico da cidade – ela não estava envolvida nos protestos.

O sétimo episódio do podcast Autoritários detalha como Ortega passou de guerrilheiro da Revolução Sandinista a ditador, e relata as histórias daqueles que tiveram que se exilar para salvar suas vidas — incluindo aqueles que morreram vítimas da repressão.

Esse foi o caso de Agustín, que disse à mãe que daria a vida pelo país. “Todos os jovens assassinados tiveram um amor enorme pela pátria”, afirma Martha.

Após a morte do filho, ela não quis mais voltar para a Nicarágua, nem mesmo para visitar. Martha diz que tudo tem seu tempo e que uma hora o regime vai cair. “Não há mal que dure 100 anos, nem corpo que o resista, não é?”.

A Folha de S. Paulo lançou uma série de de áudio narrativa intitulada “Autoritários”, onde examinou o processo que chamou de “crise democrática” pelo mundo. Cada episódio contou sobre um líder autoritário contemporâneo.

Foram oito meses de pesquisa, seis viagens e dezenas de entrevistas com políticos, pesquisadores, jornalistas, ativistas e, principalmente, cidadãos que têm suas vidas afetadas diretamente pelo autoritarismo.

A apresentação, roteiro, produção e reportagem do Autoritários foram realizados pela repórter Ana Luiza Albuquerque. Há oito anos na Folha, Ana Luiza trabalha na editoria de política e é mestre em jornalismo político pela Universidade Columbia (EUA).

A edição de som do projeto é de Raphael Concli. A coordenação é de Magê Flores e Daniel Castro, a produção no roteiro é de Victor Lacombe e a supervisão é de Gustavo Simon. A identidade visual é de Catarina Pignato.

Os episódios podem ser ouvidos no site da Folha e nas principais plataformas de áudio.