Acrim e Antônia Odete Ferreira Camelo

ICONES DE BRASILÉIA E EPITACIOLANDIA POR IVANA CRISTINA
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coluna: Ivana Cristina
Ícones de Brasileia e Epitaciolandia

A história dos meus pais começa pela minha mãe. Antônia Odete Ferreira era seu nome, nasceu na Vila Epitácio(Epitaciolandia), gostava de ir à igreja católica, conversar com as amigas, levava uma vida simples, mas, seu pai faleceu muito cedo e foram morar com seu avô Joca. Eram 07 irmãos! Por ser a mais velha, ficava responsável pela criação dos menores. Antônia se apaixonou por Alexandre. E começaram a namorar escondido. Quando ele resolveu pedir à sua mãe para namorar, a resposta foi “não”. Luzia, sua mãe, preferia vê-la morta, do que casada com Alexandre. Luzia tinha conhecido um rapaz que veio do Peru, para morar na casa da sua comadre. Ricardo era o pretendente ideal para sua filha, Antônia. Luzia apresentou os dois e marcaram o casamento entre eles na igreja. Alexandre ficou muito triste, afinal seu grande amor iria se casar com outro. Ela também estava muito triste, mas em obediência a sua mãe, casou-se com Ricardo.
Após se casar foram morar na zona rural de Xapuri. Lá no meio do nada, tiveram que trabalhar muito para construir uma choupana de palha e fazer roçado. Com a criação de galinhas e porcos, a vida foi melhorando. Antônia tinha uma filha pequena e estava grávida novamente, quando Ricardo chegou e pediu para ela desocupar a choupana com a filha. Estava gostando de outra mulher e queria trazer para morar com ele. Antônia ficou muito triste, mas resolveu ficar, afinal não tinha para onde ir. Em virtude de sua teimosia, Ricardo tocou fogo na choupana. Quando viu que ela não ia sair, correu e tirou-as. A choupana queimou! Antônia passou a noite ao relento com a filha! Ricardo saiu para a casa da namorada, deixando-a sozinha com a filha no braço. No outro dia, bem cedo, Antônia conseguiu uma carona para Vila Epitácio.Voltou a morar na casa do seu avô Joca, com sua mãe Luzia e seus irmãos. Com uma filha pequena para criar e grávida de outra. Ela trabalhou muito. Colhia arroz, lavava roupa para fora. Passou muita dificuldade e preconceito. Era uma mulher sozinha com duas filhas e sem marido. Um certo dia chamaram para trabalhar no roçado do Seu Francisco Camelo Acrim. Ele era funcionário público, tinha plantado muito arroz e precisava de trabalhadores para a colheita. Seu Acrim tinha 59 anos, era viúvo e tinha 06 filhos. Dos filhos que tinha, apenas 02 moravam com ele. Os outros já estavam casados. Antônia tinha 20 anos quando o conheceu, tinha duas filhas: Rosa e Regina. Após um período trabalhando para o Seu Acrim. Ele chamou-a para se “juntar” e criar os filhos juntos. Casaram-se no civil e dessa união nasceram quatro filhos: Ivana, Irlene, Alcides e Ione. Acrim amava demais Antônia, nunca os vi brigando. Ele era muito doente, com sérios problemas cardíacos, em idade avançada, complicava mais o seu quadro. Antes do nascimento de sua filha Ivana, teve que viajar às pressas para Rio Branco e de lá para o Rio de Janeiro, onde permaneceu por seis meses. Sem notícias do “paradeiro” do seu esposo, ela teve sua filha sozinha e novamente foi motivo de comentários (era uma mulher sem marido e grávida).
Sua filha nasceu! Quando estava com três meses, ele voltou. O ano era 1969, ele chegou de mansinho, com um sorriso no rosto, quando ela o avistou, disse uma série de palavras desagradáveis, chateada com a situação! Depois de muita conversa ele explicou o ocorrido. Tinha ficado internado por um longo período, no Rio de Janeiro, foi submetido a uma cirurgia cardíaca, o processo de recuperação foi lento. A comunicação era feita por cartas e os parentes que estavam com ele, não davam qualquer informação sobre a sua família. Quando recebeu alta hospitalar, voltou para Rio Branco e depois para casa. Após esse tempo tiveram mais três filhos. Sendo que o único menino, chamado Alcides, faleceu com 06 meses de vida. Antônia e Acrim criaram suas filhas em meio às dificuldades da época. Ela lavando roupa para comprar material para todas estudar, ele trabalhando no Grupo Escolar Getúlio Vargas, fazendo carvão e vendendo querosene nos finais de semana. Ela sempre priorizou os estudos das filhas! Francisco Camelo Acrim faleceu em maio de 1980, deixando Antônia Odete viúva aos 44 anos. Ela lutou sozinha e viu suas filhas formadas, exercendo uma profissão. Apesar das dificuldades, todas foram criadas com muito amor.
Após 20 anos, Antônia se reencontrou com Ricardo, por acaso. Velho, adoecido e sozinho. Apenas o cumprimentou de longe e seguiu em frente.
Em 2001, ela nos deixou, após 21 dias, sofrendo em decorrência de um AVC. Ela foi esposa, mãe, avó, amiga, meu maior exemplo! Uma mulher forte, determinada e corajosa. É difícil descrever essa mulher incrível, minha amada mãe.
Que eu carinhosamente chamava de “Paty”!