colunista: Ivana Cristina Colaboração: Acendina Pessoa Ícones de Brasileia e Epitaciolandia
Antônio Alves Pereira nasceu no Seringal Quixadá, colocação ” Presa Virada” (nome de um antigo morador), em 16 de novembro de 1935. Seus pais tiveram sete filhos. Depois que sua mãe faleceu, vieram morar em Brasileia, com seu avô João Reis. No local em que moravam, funciona atualmente a Pousada da Floresta. Antônio e seus irmãos foram estudar no Grupo Escolar Getúlio Vargas, gostavam de brincar com os colegas no recreio. Em uma dessas brincadeiras, Antônio tentou passar entre as ripas de paxiúba, que cercavam a escola e não viu um prego fincado. O prego perfurou sua cabeça(até hoje tem a marca), bastante ensanguentado, levaram ao hospital. No hospital rasparam sua cabeça. Quando voltou para a escola, os colegas não perdoaram e apelidaram de “pelado”. O apelido pegou… Até hoje, é conhecido como Antônio Pelado. Um dos seus filhos herdou o apelido, Carlinhos do Pelado (atual Prefeito de Brasileia). Antônio Pelado, pai de 12 filhos, é casado com Sandra Maria Matias. Vive cercado pelo amor de sua esposa, filhos, noras, netos e bisnetos. Antônio Pelado sempre foi um homem trabalhador, exercendo diversas profissões ao longo da vida: técnico de rádio, relojoeiro, motorista, condutor de embarcação, Agente de Polícia Cívil(aposentado), atualmente exerce a função de mecânico. Mas, a profissão que sempre despertou paixão foi a de Condutor de embarcação. Na época em que a estrada do Pacífico era intransitável, as urnas, em período de eleição, eram transportadas em uma embarcação, movida a varejão para Assis Brasil, demorava dias para fazer o percurso. Inúmeras vezes Antônio Pelado, fez esse trajeto de varejão, transportando as urnas. Além de cumprir sua função, estava exercendo seu papel como cidadão. Certa vez transportou o Dr. Galvão, Delegado de Assis Brasil, em sua embarcação no varejão. A viagem era lenta e cansativa. Dormiram no meio da viagem e no outro dia continuaram, mas Dr. Galvão estava incomodado com aquela pasmaceira e encostou em um lugar chamado Pedreira (próximo a Assis Brasil) e seguiu viagem a pé pela BR. Antônio Pelado retornou pacientemente a Brasileia, varejando sua embarcação. Alberto Castro, Vanjú e Zé Neto costumavam fazer esse mesmo trajeto até Assis Brasil, em sua companhia. A natureza pouco desbravada proporcionava paz e tranquilidade aos viajantes, mas, quem era acostumado com a agitação da cidade, achava enfadonha. Em uma dessas viagens pelo Rio Acre encontrou uma âncora em frente ao seringal São João, às 16 horas e 30 minutos em 1968. Doou a âncora para o Padre José, que colocou no altar da igreja católica Nossa Senhora das Dores em Brasileia e até hoje se encontra lá. O Rio Acre no passado já foi bastante largo e profundo, permitindo a navegação de grandes embarcações. No mesmo ano(1968), no mês de agosto, encontrou em frente a colocação Santa Cruz, do lado boliviano, uma hélice de navio. Doou a hélice para o Doutor Tufic. Achados que retratam a nossa história. Mas, não era só de achados históricos que Seu Antônio Pelado vivia no Rio Acre. Ele passou por diversas aventuras! Uma delas aconteceu quando estava descendo o rio em uma balsa feita de pele de borracha, em companhia do Armando da Teodora, foram até Boca do Acre, o percurso levou 1 mês e 16 dias. Um fato inusitado aconteceu quando chegaram nas Três Praias, abaixo de Xapuri, com fome, viram um grande plantio de melancias suculentas e resolveram pegar algumas para comer. Quando o dono das melancias viu, atirou com uma 12. Antônio Pelado soltou a melancia e correu, mas Armando da Teodora correu, mas não largou a melancia. Até hoje, Antônio Pelado não come melancia. Além de não comer melancia, também não come manga. Certa vez chegou em um lugar perto da beira do rio e encontrou uma mangueira carregada de mangas maduras, a proprietária do lugar era Dona Arabela. Antônio Pelado pediu para tirar umas mangas. Dona Arabela disse que podia tirar, mas que da mangueira já tinha caído três. Ele subiu e caiu. Quando acordou foi com Dona Arabela jogando uma bacia de água nele. Ficou 45 dias em cima de uma cama, sem poder se movimentar direito. Até hoje, não come mais manga. Antônio Pelado gosta de pescar e como a maioria dos pescadores, já foi ferroado duas vezes de arraia. Só quem passou por uma ferroada de arraia, sabe a dor e o incômodo que causa, principalmente no mês de agosto, quando elas estão “chocas” e vem buscar a pessoa na flor d’água. Em uma dessas pescarias, ele pegou um dos maiores peixes, talvez o maior, de 106kg(e não é história de pescador), foi um fato real. Muitos conhecem essa história. Antônio Pelado é um homem simples, conversador, aventureiro, trabalhador, um profissional de “mão cheia”. É fantástico ouvir seus relatos! Você viaja junto com ele em suas aventuras e mentaliza a natureza às margens do Rio Acre, quase intocada, recheada de vida e mistérios. Antônio Pelado é um desses homens raros de se ver! Que preserva em sua memória datas, nomes e fatos que contribuem muito para a preservação da história da nossa gente! Ao Senhor Antônio Pelado e família, meu agradecimento, carinho e respeito.