Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou nesta sexta-feira (8 de março de 2024) o que ele chamou de “manipulação política” da religião para obter votos e atacar adversários. Para o ministro, a fé deve permanecer na esfera privada das pessoas e não ser explorada de forma “abusiva” por líderes políticos.
“Precisamos combater a captura da religião para servir a causas políticas temporais e não espirituais, a instrumentalização de lideres religiosos para captar votos e dizer ‘o meu adversário é o demônio, quem votar nele não vai para o céu’. É uma forma bárbara, anti-cristã, de lidar com a religião”, afirmou Barroso durante uma palestra magna na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Durante seu discurso, Barroso relembrou os ataques à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, onde algumas pessoas, após vandalizar e invadir os prédios públicos, se ajoelharam para rezar. Ele expressou surpresa com essa combinação estranha de religião com ódio, destacando que a verdadeira religião é oposta ao ódio e à violência, promovendo a capacidade de lidar com o próximo, mesmo diante de comportamentos absurdos, com compreensão e reconciliação.
O ministro participou da aula magna com o tema “Revolução tecnológica, recessão democrática e mudança climática: o mundo em que estamos vivendo”, abordando questões como os riscos do deepfake para a liberdade de expressão, o crescimento da extrema-direita globalmente e os esforços para fortalecer as instituições democráticas no Brasil.
Além disso, Barroso mencionou os desdobramentos da operação Tempus Veritatis, conduzida pela Polícia Federal, que investiga a existência de um “gabinete do ódio” dentro do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, responsável por disseminar fake news sobre seus opositores e planejar um suposto golpe de Estado.
“Quem acompanha as investigações que estão em curso confirmou o que já se sabia: que houve um gabinete do ódio, com líderes pedindo para que se disseminasse desinformação e acusações contra o seus colegas, porque não pensavam igual, não aderiram ao golpe […] Nenhuma causa que precise de desinformação é uma boa causa. Quem defende uma boa causa deve colocar seus argumentos na mesa”, concluiu o ministro.