colunista: ICONES DE BRASILÉIA E EPITACIOLANDIA POR IVANA CRISTINA
Conheci Dona Cecília na Igreja Católica São Sebastião, sempre presente nas missas e nas atividades da igreja. Sua companhia para a igreja era a Dona Darci. Assim que terminava a missa, se reuniam Dona Mercedes, Dona Darci, Dona Cecília e minha mãe, entre conversas e risos, as horas passavam.
Dona Cecília era uma mulher determinada e forte, apesar da aparência frágil. Muito carismática, conversava com todas as pessoas, sempre com um sorriso no rosto.
Mas, a vida dessa mulher incrível não foi fácil, ficou órfã aos 8 anos e foi criada por Dona Ana, sua madrinha e mãe de criação. Mesmo pequena, aprendeu cedo a fazer os serviços domésticos da casa. Com o passar dos anos conheceu Xisto Alves Carvalho, namoraram e casaram. Mesmo tendo nascido em Minas Gerais, mudou-se para Terra Roxa, no Paraná, com seu esposo. A vida foi muito difícil, muito trabalho e pouco retorno. O casal teve 08 filhos: 03 mulheres: Maria Aparecida(Tida), Elenice(Lena), Marlene e 05 homens: Nivaldo (Valzinho), Ronaldo, Renair, Nilson(Dil) e Roberto(Beto). Com o passar do tempo, sua filha Maria Aparecida casou-se e veio morar no Acre, na antiga Vila Epitácio(Epitaciolandia). Nesse tempo, muitas famílias do Sul estavam vindo para o Norte do Brasil. Atraído por melhores condições de vida, sua família mudou-se para essa região, em 1977. Quando chegaram, ficaram em um lugar conhecido como União Baiana, BR 317. Todas as famílias que vinham do Paraná ficavam na União Baiana do Senhor César Oliveira, depois iam se espalhando para outras localidades. A Fazenda Paraná do Darly Alves, ficava próxima e ele oferecia emprego para os recém chegados. Após um período, Dona Cecília e sua família compraram uma colônia, localizada no Km 42, na Estrada Velha. Lá foram morar em uma choupana de palha, tinham muitos morcegos e baratas. Os morcegos incomodavam à noite, não deixava ninguém dormir. Quando começaram a melhorar de vida, Senhor Xisto adoeceu e faleceu. Coube a ela, se tornar a líder da família e prover o sustento dos filhos. Com ajuda de seus filhos, recomeçou a luta diária, criando galinhas, porcos, plantando, colhendo e as dificuldades eram imensas. Não havia transporte para a localidade em que morava, demorava dias para ir à cidade. Fazia o percurso “na pernada”, como dizem por aqui. Dona Cecília pensava no futuro de seus filhos! Tinha uma escola próxima de onde morava, mas não tinha professor. Com receio dos filhos ficarem sem estudar, foi trabalhar como professora na Escola Cícero Ferraz na Comunidade Santa Luzia, para que seus filhos tivessem acesso à escola. Em meio a dificuldade, Dona Cecília criou todos! Na lida com a terra, com muito trabalho, sol, calor, suor, eles prosperaram. Seus filhos cresceram, casaram e ela já não era tão jovem para ficar morando praticamente sozinha na zona rural. Comprou uma casa no Bairro Satel em Epitaciolandia. Na cidade as condições eram melhores. Dona Cecília viajou para visitar a família e, tempo depois, alguns familiares vieram visitá-la! Dona Cecília adoeceu e foi diagnosticada com Alzheimer(uma doença progressiva que destrói a memória e outras funções mentais importantes). Começava um período de aprendizado e luta para toda a família. O desconhecimento da doença, as etapas e a evolução do quadro demandou muita atenção, cuidado e renúncia. Dona Cecília ficou aos cuidados da sua filha Marlene e com a assistência de seus outros filhos. Marlene tinha um cuidado especial com ela, criando assim, um elo forte, mas tão explicável! A confiança que ela depositou na sua filha Marlene era visível! Certa vez fui visitá-la, ela já não falava nem andava mais! Mas, procurava sua filha Marlene com um olhar! Uma forma de dizer “Não largue minha mão, preciso de você”! E a Marlene, mesmo esgotada, nunca largou. Era o “bebê” como a Marlene carinhosamente a chamava.…