Crise humanitária global: Número de refugiados atinge novo recorde de 100 milhões

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fonte guiamme.com.br

Refugiados de Kosovo fugindo de sua terra natal (Foto: Flickr/United Nations Photo)
Refugiados de Kosovo fugindo de sua terra natal (Foto: Flickr/United Nations Photo)

O aumento de conflitos e guerras entre os países, mudanças climáticas, crise pandêmica e perseguição religiosa acarretaram no maior número de refugiados da história da humanidade — 100 milhões de pessoas.

O número sem precedentes aponta ainda que 40% é de crianças que estão crescendo longe de seus lares, sem segurança e sem recursos para uma vida digna. Destes 40%, 21 milhões foram classificadas como famintas.

Só nos últimos dois anos, houve um aumento de 20 milhões de refugiados. Vale destacar que em algumas partes do mundo, isso está levando a situações inimagináveis, como crianças que ficam sem comer por dias ou até semanas e mães tendo que decidir quais de seus filhos vão comer e quais não vão.

No Afeganistão, há relatos de famílias que estão vendendo suas filhas para os terroristas do Talibã para não morrerem de fome. 

Há como reverter essa situação?

Conforme a ONU, o número de pessoas que se viram obrigadas a abandonar suas casas e buscar segurança em outro local duplicou nos últimos 10 anos.

A Agência da ONU para Refugiados (Acnur), divulgou na última quinta-feira (16) o relatório Tendências Globais, mostrando que até o final de 2021, o mundo tinha 89,3 milhões de deslocados. Agora em 2022, chegou aos 100 milhões.

E será que há como reverter essa situação? A Acnur responde que “um novo impulso em prol da paz” é a única forma de mudar essa tendência. 

O alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, declarou que “a comunidade internacional precisa agir para resolver essa tragédia humana e os conflitos, a fim de encontrar soluções duradouras”.

O ano passado foi, segundo a agência, “notável pelo número de conflitos que escalaram e por novos confrontos que surgiram — 23 países, que juntos têm uma população de 850 milhões, enfrentam conflitos de intensidade média ou alta”.  

Desde então, a invasão russa à Ucrânia, que causou o maior fluxo de deslocamento desde a Segunda Guerra Mundial, emergências na África e crise no Afeganistão fizeram com que o total de pessoas desalojadas batesse a marca de 100 milhões. 

Momento sombrio para a humanidade

Na opinião de Nadine Haddad, consultora sênior de políticas da World Vision Australia: “É um momento sombrio para a humanidade”, disse ao se referir ao anúncio da ONU sobre os 100 milhões de refugiados.

“Este é um número que nunca experimentamos antes. É o maior número da história conhecida, onde há tantas pessoas que foram deslocadas à força. Um fator óbvio para o aumento é o conflito na Ucrânia, de onde sete milhões de pessoas fugiram”, lembrou Nadine. 

“No entanto, o maior contribuinte para o número de pessoas deslocadas continua sendo a Síria, onde impressionantes 30 milhões estão deslocados dentro do país e outros 5 milhões no exterior. No Afeganistão, mais de 6 milhões de pessoas foram deslocadas à força”, continuou. 

A consultora, conforme o Eternity News, também lembrou da complexa crise na região do Sahel na África — uma ampla faixa de países, incluindo Burkina Faso, Somália e Sudão, que estão principalmente em conflito e estão passando por anos de ondas de calor, secas e quebras de safra.

“É a tempestade perfeita onde há conflito, mudança climática e o impacto da pandemia por Covid-19 que está forçando mais e mais pessoas a fugir de suas casas”, ela disse também.

Competição por recursos

A consultora aponta para um fator preocupante que a crise de refugiados pode gerar — a competição por recursos — que ela afirma estar cada vez maior. Além disso, há uma tensão intercomunitária. O alto número de refugiados “está desafiando os meios de subsistência das pessoas”, conforme ela explica. 

A crise global da fome está colocando em risco o futuro de milhões de crianças, sem contar que entre os refugiados há menores desacompanhados ou crianças separadas de suas famílias, totalmente vulneráveis. Eles enfrentam muita fome e miséria, além da interrupção dos estudos e do sentido da vida. 

Os traumas vividos pelos refugiados, desde crianças até idosos, é inimaginável. Os desafios são imensos.

Compaixão pública

Conforme Nadine, a resposta dos países vizinhos à enxurrada de refugiados da Ucrânia foi animadora, porém, esse não é o padrão em todas as partes do mundo.

“Com mais frequência, os refugiados são demonizados e excluídos sem acesso a cuidados médicos, sem direito ao trabalho e sem redes de segurança social”, apontou.

Para amenizar a situação, porém, é preciso haver boas decisões por parte dos cidadãos comuns e também por parte dos políticos.

“Podemos realmente começar a mudar a história e reinventar o futuro. Precisamos que os governos de todo o mundo façam mais investindo na prevenção  e na mediação de conflitos, precisamos dar uma chance à paz. Precisamos que nossos filhos vivam em um futuro pacífico”, concluiu.