colunista: Ivana Cristina Colaboração: Heloísa(Lóia)e sua nora Maria Ícones de Brasileia e Epitaciolandia
Maria Augusta era seu nome, casada com o Senhor Tomaz, tiveram 12 filhos, moravam na antiga Vila Epitácio, hoje, Epitaciolandia, na Avenida Santos Dumont. Ela era mais que uma vizinha, era uma irmã para minha mãe. Juntas, pescavam no Igarapé Encrenca, faziam colorau, massaco, pilavam milho para fazer chicha e conversavam no finalzinho da tarde, após as duas terem concluído as tarefas domésticas. Dona Augusta contava muitas histórias, principalmente sobre a “Chapadinha”, um seringal localizado nos confins da Bolívia. Quando seus filhos voltavam do seringal, traziam pequi para nós. Cuidado com os espinhos, dizia minha mãe! E a gente saboreava aquele fruto carnudo, cheio de óleo, como era gostoso, hoje, já não tem o mesmo sabor de outrora. À noite, Dona Augusta reunia a meninada dos vizinhos, na frente de sua casa e ia contar histórias, como não tinha televisão, na época, esse era nosso passatempo preferido. Geralmente era de assombração! E eu escutava atentamente! Dona Augusta era uma contadora de história de primeira, criava suspense, entoava a voz, dando um ar dramático e na penumbra da noite, a história parecia real. Nessa época, a luz apagava às 22 horas, restando apenas a luz da lamparina para a gente dormir. Nossa casa era velha, cheia de “brechas”, vislumbrando a escuridão da noite, com o coaxar dos sapos parecia mais aterrorizador e era nessa hora que eu lembrava das histórias da Dona Augusta, ficava tremendo de medo debaixo da coberta e minha mãe ralhava: Não mandei ficar escutando as histórias da Augusta, dizia ela. Meu medo era grande, mas, a vontade de escutar novas histórias era maior ainda. E no anoitecer de mais um dia, lá estava eu e meus amigos, escutando mais uma história. Recordo quando meu pai adoeceu e pediu que minha mãe não saísse do seu lado, segurando a sua mão, até ele dormir. Noite após noite. E minha mãe, exausta da labuta diária, se cansava de ficar naquela posição. Meu pai doente, demorava a dormir. Gentilmente Dona Augusta, vinha e pedia que ela fosse descansar um pouco e ficava segurando a mão de meu pai. Guardo essa recordação com carinho e gratidão. Dona Augusta foi a verdadeira “Velha Totonha” de José Lins do Rego, na minha infância. Meu primeiro contato com o fantástico mundo das histórias. Dona Augusta criou seus filhos com muita dificuldade, depois que ficou viúva, mas jamais perdeu a ternura. Sempre disposta a ajudar o próximo. Ela falava que o segredo da longevidade era beber um copo de sangria(mistura de vinho com água) antes do jantar e comer “mujangué” duas vezes por semana. No dia 20 de janeiro de 2005, ela nos deixou, deixando um vazio no coração de seus amigos e familiares. Ela foi uma mulher incrível, uma mãe dedicada, uma avó fraterna, uma bisavó querida e uma tataravó amada! Um aplauso ao fantástico mundo das histórias, contada pela Dona Augusta.