colunista: Ivana Cristina Colaboração: Dária Aires Ícones de Brasileia e Epitaciolandia
Dona Zoraide era nossa vizinha(morávamos na Avenida Santos Dumont), casada com Seu Manduca, mãe da Mariinha, Durinéia e Duzinha. Seu apelido era Dona Zó, de estrutura mediana, sorriso largo, usava óculos, tinha voz aveludada, magra, pele clara, tinha cabelos grisalhos. Ao cair da tarde, vendia diversas guloseimas , em frente a sua casa. Fazia um maxixe peruano recheado como ninguém! Conquistava a todos pelo carisma e era muito respeitada pelos moradores da Vila Epitácio (Epitaciolandia). Cultivava muitas plantas, ornamentais e medicinais. O relógio era o seu maior tesouro, um relógio enorme, pendurado na parede, que de tempo em tempo, dava badaladas, para indicar as horas, em alto e bom tom. Além do relógio, era dona de um carneiro marrento, chamado Bilu (a música do Bilu Tetéia de Mauro Celso, estava no auge, daí o nome). Bilu corria atrás da meninada, ao ser provocado, para dar marradas e a molecada fazia pirraça, era uma diversão. Certa vez, minha irmã Regina com meu irmão Alcides, provocou o Bilu e ele correu atrás deles para dar marradas. Alcides era um bebê, ria muito da travessura! A televisão finalmente chegou à Vila Epitácio e, para minha alegria, Dona Zoraide, ganhou uma de sua filha, Durinéia. Era preto e branco, pequena, imagem ruim, com um pedaço de bombril na antena. A programação era sempre repetida. Mas, quem se importava.Todos sentados para assistir. Dona Zó colocava ordem na sala. As crianças no chão em frente a tv, e os adultos, no sofá, lugar de honra. Ela vendia picolés, geralmente de ksuco, que deixava a língua colorida. Se alguma criança fizesse barulho, ela ralhava. O relógio, como em um passe de mágica, mostrava a hora. Era hora de ir embora. Afinal, às 22 horas, a luz apagava e ficava um breu na pequena vila! Lá se ia mais uma noite, nossos sonhos embalados por Dias Gomes, do Seriado O Bem Amado. Ah, tempo bom! Hoje, tão distante! É fantástico ser criança e guardar essas recordações. Meu irmão Alcides faleceu ainda bebê. Diziam na época que era “doença de criança”. Lembro que minha mãe colocou uma vela acesa em sua mão, era costume na época. E como um passarinho ele se foi! Mas, seu sorriso, ainda guardo com carinho. Dona Zoraide, marcou a minha infância, assim como o seriado O Bem Amado. Uma grande mulher, que deixou saudades no coração de seus amigos e familiares.