Economia em alta no marketing, invisível no cotidiano: o PIB que só circula no WhatsApp

Política
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Reportagem : Helizardo Guerra

Vem circulando com entusiasmo suspeito nos grupos de WhatsApp da fronteira um card publicitário, digamos, otimista demais. Em letras garrafais e clima de “DESTAQUE”, a peça anuncia que, sob a gestão do prefeito reeleito de Epitaciolândia, o PIB do município teria dobrado em apenas quatro anos, catapultando a cidade ao seleto grupo de destaques econômicos do Acre.

O detalhe curioso — para não dizer conveniente — é que os supostos marqueteiros da atual gestão parecem ter esquecido um pequeno elemento básico do jornalismo e da seriedade institucional: a fonte. Não há qualquer referência a estudos, institutos de pesquisa, dados oficiais, levantamentos do IBGE, relatórios técnicos ou qualquer outro indício mínimo de que a informação tenha lastro na realidade. O que se vê é apenas um card colorido, frases de impacto e a aposta de que a população aceite o anúncio sem questionamentos.

Diante disso, algumas hipóteses passam a disputar espaço. A primeira é que os dados realmente existam, mas estejam guardados sob sigilo absoluto, acessíveis apenas a iluminados estrategistas da comunicação oficial. A segunda, mais plausível, é que se trate de mais uma peça de marketing político travestida de dado econômico, explorando a circulação rápida e, muitas vezes, acrítica típica das redes sociais. Há ainda uma terceira possibilidade: a de que tudo não passe de uma piada de mau gosto, que escapou do grupo interno da propaganda e ganhou o mundo digital.

Caso o PIB tenha mesmo dobrado, a população certamente gostaria de saber onde ele está escondido. Afinal, os reflexos práticos desse suposto crescimento extraordinário não parecem ter chegado com a mesma velocidade aos serviços públicos, à infraestrutura urbana, à geração de emprego ou à melhoria efetiva da qualidade de vida dos moradores. Se não dobrou, resta apenas o constrangimento de tentar vender ficção como fato — uma estratégia que, em tempos de fácil checagem, costuma durar menos que um story de WhatsApp.

No fim das contas, o card até cumpre seu papel: chama atenção. Pena que seja muito mais pelo exagero, pela falta de transparência e pela ausência de credibilidade do que por qualquer evidência concreta de desenvolvimento real.