A postagem do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), na última Sexta-Feira Santa (29), em que mostrava um homem crucificado e a frase “Bandido bom é bandido morto”, gerou duras críticas por parte da liderança religiosa. Os pastores acharam a postagem ofensiva aos cristãos e totalmente desnecessária.
O pastor Jorge Linhares, presidente da Igreja Batista Getsêmani e do Conselho de Pastores do Estado de Minas Gerais (CPEMG), disse que quem costuma acusar os outros é porque, na maioria das vezes, está vivendo aquele delito a qual acusa.
“Todo ladrão pensa que todos são ladrões. Todo mentiroso pensa que todos são mentirosos. Todas as pessoas sem Deus pensam que todos também estão sem Deus. Todas as pessoas condenadas pensam que todos deveriam ser também condenados. Jesus morreu na cruz, não como bandido, mas pelos bandidos. Cristo salva”, enfatizou Linhares.
Já o teólogo Lourenço Stelio Rega, Ph.D. em Ciências da Religião, disse não acreditar que o post do MTST foi impensado. Isso porque, na sua opinião, o ambiente de onde partiu a postagem é um lugar onde o desencantamento da vida tem crescido cada vez mais, ou seja, as coisas que dão sentido a vida estão sendo trocadas pela secularização, onde, para essas pessoas, a presença de Deus não é mais necessária.
“Assim, o indivíduo, por si mesmo, se acha suficiente para dar significação à sua vida. Ele é o seu próprio deus, legislador e juiz de seus atos. Então, tudo o que é relacionado com a religião é inútil, a história de Jesus é um mito, nenhum valor possui”, justifica Rega.
Para o teólogo, o Movimento também usou o deboche de forma proposital, sem se importar se alguém seria ofendido, independentemente da religião. “É um tipo de deboche provocativo, vazio e que mais me parece buscar aumentar a contabilidade de visualizações na auditoria vazia da vida virtual de hoje. O MTST está tentando se valer de uma frase utilizada por pessoas indicadas como de direita, para aplicar a um tema distante, contra um herói morto sem ter sido bandido. Mais uma vez um ato provocativo desnecessário”, afirma Stelio.
Na sua opinião, posts como esses inflamam ainda mais uma polarização que só tem trazido prejuízos ao país. “O Brasil precisa de pacificadores e nenhum lado extremo está contribuindo para isso. E vamos lembrar ainda que em um círculo os extremos se tocam, destroem relacionamentos, a história, o futuro”, lamenta Stelio.
Post infeliz comparado à “mula de Balaão”
Por outro lado, o presidente da Primeira Igreja Batista em Aracruz (PIBARA), pastor Luciano Estevam Gomes, acredita que, assim como Deus usou uma mula para alertar o profeta Balaão sobre seu grave pecado (Números 22-24), o Senhor também pode reverter essa situação e utilizá-la para chamar a atenção para o Evangelho.
“De certa forma, o MTST, mesmo inconsciente, considerando que Deus já usou um pagão e até uma mula para fazer a Sua vontade, anunciou duas verdades totalmente bíblicas e coerentes com a Páscoa: A Bíblia diz que a péssima escolha de nossos pais (Adão e Eva), pela desobediência, nos tornou amaldiçoados com a morte (Romanos 5:12); e que essa maldição foi resolvida por Jesus Cristo, que tomou o nosso lugar morrendo na cruz, onde eram crucificados bandidos, malfeitores e criminosos (Gálatas 3:13)”, explica Gomes.
O pastor lembra inda que, naquele momento na cruz, Jesus assumiu a culpa dos pecadores para, por meio de Sua graça, nos oferecer a salvação, mesmo sem merecê-la. “Jesus tomou os nossos pecados sobre Ele, sem jamais ter provado o pecado. E, por fim, se tornou amaldiçoado com a morte, mesmo não sendo rebelde. O que os judeus não contavam, nem mesmo os romanos, e tão pouco agora os que seguem o MTST, foi com o poder que Jesus tem sobre a morte (Mateus 28:5-7)”, ressaltou Gomes, que completou:
“A palavra ‘maldito’, no original, é ‘Epikatáratos’, que significa execrável, exposto à vingança divina. Então, a morte de Jesus Cristo na cruz foi a vingança de Deus contra o poder da morte trazida pela desobediência, cancelando os pecados execráveis de todos aqueles que foram marcados por ela”, conclui.