COLUNISTA: Ivana Cristina
Colaboração: Kelli Guedes de Carvalho
Ícones de Brasileia e Epitaciolandia
Seu nome era Francisca Matias Guedes, mas todos a conheciam por Dona Chica. Ela nasceu em 25 de março de 1934, em Belém do Pará. Seu avô tinha migrado para os seringais do Acre buscando uma vida melhor. Mas, com tantos anos, “sem dar notícias”, sua mãe, Raimunda, juntou as filhas: Francisca e Mundica, decidiu migrar também para o Acre. As condições financeiras não eram boas, decidiram viajar escondidas em um navio que transportava borrachas. Os navios subiam e desciam o Rio Acre, transportando o “ouro negro” da época.
Quando chegaram no Acre, a vida não foi fácil, foram trabalhar nos seringais no corte da seringa. Muito trabalho envolvido e pouco retorno. Onças, queixadas e cobras rodeavam a pequena choupana em que moravam, estavam à mercê de todos os perigos. A malária ceifava a vida de muitos “brabos”, era preciso coragem para enfrentar a vida difícil nos seringais longínquos do Acre.
Procurando uma vida melhor, mudaram-se para à cidade de Brasiléia. Aqui, os desafios eram outros, pagar aluguel, pagar água, luz, comprar alimentos e trabalhar muito para prover o sustento.
Francisca e sua irmã Mundica não tiveram infância, as brincadeiras infantis foram substituídas por trabalho árduo. As mãos inocentes se tornaram calejadas pelo trabalho incessante. Francisca precisava ser firme e forte para vencer todos os impropérios da vida. A vida transformou aquela criança na mulher que se tornou.
Logo aprendeu a costurar, cozinhar, lavar e passar roupas. Foi trabalhando de doméstica que ela conseguiu equilíbrio financeiro. Muito conhecida no bairro que morava, era muito elogiada pelo seu tempero, cozinhava divinamente. Em virtude disso, foi convidada várias vezes a preparar jantares para tradicionais famílias de Brasiléia. Mas, lavar roupas sempre foi sua paixão. Era uma lavadeira afamada na região, mesmo após tantos anos e com idade avançada, Dona Chica continuou lavando e passando roupas, uma forma de se manter ativa.
Dona Chica tinha uma personalidade forte, determinada e focada no que queria. Mas, por trás daquela mulher com olhar firme, tinha um coração amoroso. Não demonstrava seu amor em palavras, mas em atitudes. Sempre preocupada em ajudar o próximo, parentes, vizinhos, conhecidos ou não.
Francisca teve uma vida muito difícil, mas nunca reclamava!
Não teve oportunidade de estudar, mas sabia ler e fazer cálculos matemáticos. Sua sala de aula foi a vida. A situação difícil privou a criança Francisca de frequentar a escola. Foi mãe muito jovem. Teve seis filhos: Antônio Liberato, Ana Maria, Sheila Maria, José Maria(Zezinho), João José (Cabo Guedes) e Kelli Guedes. Mesmo não tendo frequentado a escola, incentivava seus filhos a estudar. Uma mulher de muita fé, temente a Deus.
Dona Chica ficou com o coração transbordando de tristeza, quando soube que seu filho João José Matias Guedes(Cabo Guedes), policial militar, tinha sido alvejado por um tiro no exercício de sua profissão. Um tiro que lhe ceifou a vida, no dia 19 de fevereiro de 2002. Um crime que chocou e ficou marcado na memória dos moradores de Brasileia e Epitaciolandia. Mas, Francisca, mesmo com o coração enlutado, teve forças para seguir em frente. Seus filhos e netos precisavam dela, afinal, ela era uma mulher guerreira e lutou para criá-los com honra, trabalho e coragem.
Após algum tempo doente, Dona Chica faleceu em 23 de dezembro de 2021, aos 87 anos de idade. Deixando saudades no coração dos familiares e dos amigos. Uma mulher amada, respeitada e conhecida pelos moradores de Brasileia!
Uma mulher que gostava de contar histórias, fazer pequenas caminhadas e conversar com os amigos.
Francisca ou simplesmente Dona Chica, uma mulher resiliente, carismática, que deixou saudades no coração dos que a amavam e admiravam.
Uma mulher forte e persistente, que nunca desistiu diante das dificuldades da vida.
Uma mulher que soube superar desafios, contornar obstáculos sem perder a ternura.
Aos familiares e amigos da Dona Chica, uma mulher que deixou marcas na sociedade de Brasiléia, meu respeito, admiração e carinho.