colunista: Ivana Cristina Colaboração: Francilene Alves Ícones de Brasileia e Epitaciolândia
Francisco Alves era um rapaz, que se casou aos 30 anos. Fato raro para a época, com receio de não conseguir prover o sustento da família, preferiu adiar essa decisão. Mas, no dia que conheceu Maria Alzirene, esse fato mudou. Ela era a mulher da sua vida, sua futura esposa! A companheira perfeita, bonita, respeitada, humilde e trabalhadeira. Casaram-se, no Dia dos Namorados, 12 de junho de 1976. Mas, no início não foi fácil! Foram morar com o sogro e por mais que este fizesse o possível para se sentir em casa, eles queriam um lugar para chamar de seu. Trabalharam muito, de sol a sol. Seu José, sogro de Maria, cedeu uma terra para eles morarem, plantarem e colherem. A mata era bruta, o igarapé era longe e havia animais selvagens. Francisco, mas conhecido como Seu Chico, “fez derrubada” no machado. As mãos calejadas, o sol a pino, suor, cansaço… mas quando olhava para sua esposa Maria, mesmo com a aparência frágil, dava forças para ir em frente. Logo, montava roçado, plantando arroz, colhendo manualmente e vendendo por preço irrisório. Com o tempo, a família cresceu. Seus filhos precisavam de uma vida melhor. Com suas economias, Chico montou uma pequena venda. Vendia de tudo um pouco. Mas ainda não era suficiente para prover o sustento da família. Quando a situação ficava difícil, ele e sua família voltavam ao plantio de arroz, feijão e outros produtos para completar a renda. O sogro de Maria cedeu uma choupana de paxiúba para eles morarem enquanto colhiam a plantação. Com os filhos pequenos, Maria foi ajudar seu esposo na colheita. Durante à noite caiu uma forte chuva, o vento era incessante, a choupana “molhava mais dentro do que fora”, as paredes de paxiúba não impedia a chuva de entrar e molhava tudo, o mês era abril, após a forte chuva, veio a “friagem”, três dias e três noites de frio e garoa. Maria, seu esposo e filhos pequenos dormiam em rede e as cobertas eram finas. O frio era tão forte, que parecia congelar os ossos. Os “cueiros” que eram usados por sua filha pequena à noite, precisavam ser lavados em um igarapé de água escura e fria. Ela saia com uma bacia na cabeça e sua filha, Lene, a acompanhava. O igarapé era longe da choupana e fazer o percurso com uma bacia na cabeça, de manhã e uma criança pequena, na friagem era desafiador. Maria enfrentou esses impropérios da vida com coragem. Até hoje, as lembranças persistem na memória dela. Quando a friagem chega, geralmente em abril e agosto, Maria lembra daqueles dias, de sofrimento que passou com seu esposo e filhos pequenos. A friagem, segundo ela, não traz boas lembranças. O tempo passou, Maria Alzirene foi trabalhar como merendeira na escola rural Padre André Natalino, no ramal do Km 13, da Prefeitura de Brasileia. Seu Chico comprou um lugar e foi criar pequenos animais, plantar, colher e vender seus produtos. A Escola ficava um pouco distante da casa de Maria. Ela precisava carregar água na cabeça da fonte para encher os filtros de barro, preparar a merenda das crianças e fazer a limpeza da escola. Sua função era merendeira, mas quem trabalha ou já trabalhou em uma escola rural de difícil acesso, sabe que tem que exercer mais de uma função. Ela era merendeira, servente e auxiliava a professora em pequenas tarefas. Maria é uma cozinheira de mão cheia, suas filhas herdaram esse dom. Na Semana Santa ela prepara um delicioso mungunzá no leite de castanha e com gosto de infância, daqueles que minha falecida mãe preparava para mim e minhas irmãs. Em uma de nossas conversas lembramos da época em que os vizinhos “furtavam” galinhas na véspera de Sábado da Aleluia! Uma tradição antiga que se perdeu com o tempo. Com os filhos crescidos e precisando dar continuidade aos estudos, mudaram para a zona urbana. Venderam seu lugar, suas criações e compraram uma casa na cidade, onde até hoje moram, ao lado da Igreja da Paz. Seu Chico montou um pequeno comércio e Maria uma pequena pensão na beira do rio, além de trabalhar como merendeira. Com as constantes enchentes, a pensão desmoronou, como tantos pequenos comércios que a água levou! Mas, com resiliência, Maria Alzirene recomeçou, como tantos comerciantes fazem depois que a enchente vai embora. Vê os filhos: Francilene, Francinaldo, Francinete e Francinéia, formados e trabalhando é a realização de um sonho desse casal. Que não mediram esforços para que seus filhos estudassem e se tornassem cidadãos de bem. Hoje, todos estão trabalhando, assim como aprenderam com seus pais que o “Trabalho dignifica o homem”. Católicos, terços e novenas de Natal são rezados em sua residência, todos os anos. Atualmente, Seu Chico e Dona Maria estão aposentados, cercados pelo amor de filhos, genros, nora, netos e amigos. Dia 17 de março cantamos os parabéns pelos 76 anos de vida da Dona Maria, como carinhosamente eu a chamo. Uma amiga que eu considero como minha segunda mãe. Uma mulher íntegra, de bom coração, que me recebe com um sorriso caloroso, todas às vezes que vou visitá-la. Uma casa que eu me sinto acolhida! Daquele jeito como se estivesse em sua própria casa. “Aposentados sim, parados nunca!” Dona Maria continua na ativa, cuida da sua casa, de seus netos, das suas flores e verduras e Seu Chico trabalha com reciclagem. Eles são pessoas raras de se ver! Há quase meio século estão casados, enfrentando desafios com amor e união. Meu agradecimento especial, por fazer parte de vossas vidas, que Deus os abençoe sempre. Ao Seu Francisco Alves e Família, meu carinho, amizade e respeito.