Reportagem: Helizardo Guerra
E é justamente nesse ponto que a discussão ganha novos contornos. A figura do “mercenário da comunicação” — aquele que transforma o ofício em balcão de negócios e vende opinião como quem negocia espaço publicitário — tornou-se tão corriqueira no Alto Acre que muitos já nem percebem o tamanho do prejuízo coletivo causado por esse comportamento. Quando a linha editorial é ditada pela conveniência financeira, e não pelo compromisso com a verdade, quem perde não é um grupo político específico: é toda a sociedade.
A comunicação local, que deveria atuar como instrumento de fiscalização, pluralidade e transparência, passa a cumprir um papel distorcido e perigoso: o de sustentação de pequenos feudos de influência. Assim, qualquer tentativa de romper essa lógica e apresentar uma proposta ética, independente e minimamente imparcial é rapidamente sufocada por aqueles que se sentem ameaçados. Não se trata de falta de competência — nunca foi. Trata-se de medo. Medo de perder o controle sobre o que pode ou não ser dito; medo de ver ruir o império de conveniências construído ao longo dos anos.
Nos bastidores, comenta-se que muitos desses profissionais só têm “lado” enquanto o pagamento estiver em dia. Mudou o cenário político? Mudam-se os textos, os alvos, as alianças. Não é opinião: é comércio. E comércio disfarçado de jornalismo sempre cobra a conta mais alta da população, que fica refém de narrativas fabricadas para atender a interesses específicos.
Alguns tentam normalizar esse comportamento, dizendo que “é assim mesmo na política”. Mas é difícil aceitar tamanho descompromisso com a responsabilidade pública que a profissão exige. Uma imprensa que silencia diante de injustiças e grita apenas quando seus próprios interesses são atingidos perde legitimidade — e, pior, afasta o cidadão comum do debate público. Afinal, como confiar em quem muda de postura conforme a maré eleitoral?
O mais grave é que parte desses agentes da desinformação utiliza suas plataformas para atacar, ridicularizar e difamar pessoas comuns — trabalhadores e famílias que nada têm a ver com as disputas de poder. Transformam a honra alheia em munição política, como se a vida humana fosse apenas mais um ativo negociável. E então surge a pergunta que ecoa nas ruas: precisa realmente chegar a esse ponto? Vale sacrificar credibilidade e dignidade profissional apenas para agradar, momentaneamente, um grupo político?
A população do Alto Acre observa, reclama, questiona e cobra — como demonstrou o cidadão que expressou sua indignação ao afirmar que “nenhuma dessas pessoas que se dizem da imprensa se dispõe a ler, investigar ou apurar um assunto sério”. A crítica é direta e desconfortável. Falta preparo? Falta ética? Ou falta coragem?
Talvez seja hora de a imprensa local encarar o espelho sem filtros, repensar seus valores e resgatar aquilo que nunca deveria ter sido abandonado: o compromisso com a verdade, com o serviço público e com a independência editorial. Sem isso, continuará existindo mídia — mas dificilmente poderemos chamá-la de imprensa.