Incêndio no Caminhão

ICONES DE BRASILÉIA E EPITACIOLANDIA POR IVANA CRISTINA
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colunista: Ivana Cristina
Colaboradores: Regina Rosa Machado, Seu Lêtta, Gislene Salvatierra e Dr. Armando Salvatierra
Ícones de Brasileia e Epitaciolandia

31 anos atrás, dia 08 de setembro de 1994, estava quente e abafado, um fator comum no mês de setembro, o ar e a vegetação seca predominava, o calor era escaldante. Mas, no início da tarde, tudo mudou… Nuvens escuras cobriam o céu, o vento, antes fraco, se intensificou. A poeira cobria as ruas e as casas. As pessoas corriam na rua para se abrigar daquele vendaval. Morávamos em Vila Epitácio( Epitaciolandia), na Avenida Santos Dumont. Nossa casa era velha, de madeira, já apodrecida pelo tempo e meio torta. Quando a ventania começou, eu, minhas irmãs e nossa mãe corremos para fechar as janelas e o barulho estranho foi ficando mais forte! A casa começou a balançar e fomos para a porta, se a casa caísse, teríamos tempo de correr. A casa, apesar dos “estalos” que deu, continuou em pé, graças a Deus! Foram minutos que pareciam horas. Mas, apesar da forte ventania e da intensa poeira, não choveu. E a ventania foi aos poucos acalmando!
De repente, o barulho intenso na rua e pessoas correndo, chamaram nossa atenção. Os carros do exército seguiam em direção à Brasiléia, em alta velocidade. Nós, ainda tentando nos recuperar do susto, percebemos a movimentação e a aflição no rosto das pessoas. Uma tragédia aconteceu, contou nossa vizinha! Um caminhão que se deslocava pela BR 317, Km 15, sentido à Assis Brasil, transportando moradores da zona rural, tinha pegado fogo!
Era o período de queimadas, as laterais da BR estavam sendo consumidas pelo fogo, há dias. Além das pessoas, o caminhão transportava bastante combustível. Em virtude da forte ventania, a fumaça impediu que o motorista perdesse a visibilidade da estrada, indo de “encontro” ao fogo.
O combustível dentro do caminhão encharcou os passageiros. No desespero e impedidos pela fumaça corriam sem direção, indo de encontro ao fogo, outros, foram atingidos pelo fogo, dentro do caminhão. As vítimas sofreram queimaduras de 1°, 2° e 3° graus.
25 pessoas estavam no caminhão, entre homens, mulheres e crianças.
19 pessoas vieram a óbito, inclusive um bebê.
Uma rede de solidariedade foi feita, tendo em vista que na época nem gases tinha no hospital de Brasileia, segundo relatos.
Folhas de bananeiras, ventiladores, água potável, kit de primeiros socorros, remédios e outros materiais foram doados pela população. O Exército, Polícia Militar, Civil e Federal, bolivianos e os moradores participaram dessa rede de solidariedade e apoio aos feridos. Uma multidão se concentrou em frente ao hospital querendo ajudar e saber notícias. Um véu de tristeza caiu sobre a cidade. O Deputado Estadual, na época, Dr. Armando Salvatierra, conseguiu com a ajuda do governo do Estado, dois aviões de pequeno porte, que pousaram à noite, no Aeroporto de Epitaciolandia (iluminados pelas luzes dos carros, principalmente dos taxistas)para o transporte dos feridos a Rio Branco.
Médicos e enfermeiros se deslocaram para o hospital de Base e Fundação Hospitalar para atender os primeiros pacientes, que foram transferidos. Mas, apesar de todos os esforços, a maioria não resistiu. Algumas pessoas eram da mesma família, como Maria Rosa Machado (mãe) e Ramiro Rosa Machado (filho, de apenas 14 anos), ambos vieram a óbito.
Outro fator agravante, era o hospital de Brasileia que não tinha infraestrutura, equipamentos, materiais básicos e nem médicos especialistas para lidar com uma tragédia de grande proporção.
As vítimas que conseguiram escapar com vida, tem que conviver com sequelas físicas e psicológicas, que persistem até hoje. Foi uma tragédia de grande proporção que abalou nossa cidade e chocou os médicos e enfermeiros de Rio Branco pela gravidade das queimaduras. Um acidente, que poderia ser evitado, ficou marcado no seio das famílias que perderam seus entes queridos e na lembrança de profissionais e amigos que vivenciaram essa triste história ocorrida na cidade de Brasileia. Em nome de todas as vítimas e familiares,
minha solidariedade a Regina Rosa Machado, que perdeu sua mãe e seu irmão e na pessoa do Senhor José Eduardo de Oliveira, mas conhecido como “Lêtta”, um dos sobreviventes do incêndio do caminhão.