Memórias da Semana Santa

ICONES DE BRASILÉIA E EPITACIOLANDIA POR IVANA CRISTINA
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COLUNIST: Ivana Cristina
Colaboradores: Gislene Salvatierra, Francisquinha Castro e Jhuvanna Maria
Ícones de Brasileia e Epitaciolandia

A Semana Santa começou com o Domingo de Ramos e vai até Domingo da Páscoa! Antigamente a Semana Santa tinha umas tradições que não vemos mais hoje. Não podia varrer a casa, pentear os cabelos, dançar, ouvir músicas “mundanas”, ir à escola, fofocar, comer carne vermelha e ingerir bebidas alcoólicas. Nossos pais e as pessoas mais velhas, faziam questão de preservar esses costumes, principalmente na Sexta-feira Santa ou Sexta Maior. Nossos pais não podiam surrar os filhos e a meninada evitava “aprontar” com medo de castigos maiores. Lembro que na pequena Vila Epitácio, a vizinhança preparava uma culinária diversificada! Primeiro: castanhas descascadas e raladas em um ralo feito de lata de alumínio(ralava mais os dedos do que a castanha), milhos para mugunzá, tinha que ser “pilados” no pilão, de preferência do amarelinho. Os peixes eram pescados antes de quinta-feira, no igarapé Encrenca, no Bahia, no Rio Acre ou no rio Thauamanu na Bolívia. Chegavam os imensos jundiás vindo da Bolívia. O povo fazia fila para comprar um quilo daquele enorme peixe! Quem não tinha dinheiro para comprar, comia cará, bodó, cuiú, traíra ou mané besta. O cará era frito na banha de porco, empanado na farinha de mandioca. Mas, o mugunzá no leite da castanha, não podia faltar. Na sexta-feira, após a procissão do Cristo Morto(Cobija) ou em Epitaciolandia/Brasiléia, era comum correr para pegar as galinhas e guardar-las dentro de casa, para ninguém furtar. Era costume na época furtar uma galinha e ir oferecer ao dono, a galinha cozida! Minha mãe criava bastante galinhas, um costume que eu tenho até hoje. As galinhas eram pegas e colocadas dentro de casa, debaixo de uma mesa com uma tarrafa em cima.
No outro dia, era uma trabalheira para baldear a sujeira que elas provocavam. Mas, estavam todas “salvas”.
Ao amanhecer, as vizinhas saíam de casa em casa para saber se tinha “sumido” alguma galinha. Elas sempre
reclamavam dos furtos, minha mãe não! Ela era prevenida. Ah, tinha o Judas! Judas era um boneco feito com roupas coloridas e cheio de capim. O mesmo capim que outrora enchiam os colchões. Chamava de “malhação de Judas”! Colocavam o Judas em alguma casa de forma aleatória, quando a família acordava, lá estava o Judas, causando susto nas pessoas. Era uma diversão.
A Vila Epitácio era praticamente a Avenida Santos Dumont, com a rua de areia fininha, as casas de madeiras ou de paxiúba, sem cerca nos quintais, facilitando o acesso a todas as residências.
Quem criava galinhas, marcava cortando a ponta do dedo com uma tesoura, quando eram pintinhos. Vi muito minha mãe fazer essa marcação. A tradição em não comer carne vermelha, a maioria conserva até hoje. Temos opção de degustar um peixe, assado, cozido, frito ou preparar aquela deliciosa moqueca. Saborear um mugunzá no leite de castanhas ou com leite condensado. Podemos e devemos participar das atividades religiosas na Igreja: confissão, virgília, missas, procissão e peça teatral “Paixão de Cristo” encenada pelos jovens da Obra de Maria em Brasileia. Precisamos renovar nossa fé e esperança, aguardando o domingo de Páscoa!
Não focados apenas no chocolate, mas na Palavra de Deus. A tradição diminuiu, mas a nossa fé precisa ser fortalecida, independente da religião. “Buscai primeiro o reino de Deus”!
Uma Feliz Semana Santa!