O presidente Lula (PT) vai encerrar o seu primeiro ano de governo tendo percorrido milhares de quilômetros em diversas partes do Brasil e do mundo, mas sem ter pisado em oito estados brasileiros.
A ausência mais notória é Minas Gerais, chave para a sua vitória em 2022 e governado por um potencial adversário na próxima corrida presidencial, Romeu Zema (Novo).
O estado é o segundo mais populoso, com 20 milhões de habitantes, e o segundo maior colégio eleitoral. É considerado um espelho do resultado da eleição nacional. Em 2018, garantiu a vitória de Jair Bolsonaro (PL), mas, no ano passado, elegeu Lula com a votação mais acirrada do país.
Auxiliares palacianos admitem que há preocupação de visitar o solo mineiro, mas dizem que não foi possível neste ano.
Lula chegou a anunciar que iria a Minas Gerais para lançar obras do Novo PAC e soltou uma provocação para Zema e para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmando que faria eventos nesses estados com ou sem a presença dos governadores.
O presidente pretende mudar a rota no ano que vem e viajar pelo país, após críticas por estar distante, sobretudo em momentos de crise, como as tragédias no Rio Grande do Sul.
“Se prepare, porque eu viajei muito para o exterior, em 2023, mas ano que vem quem tiver com saudade do Lulinha se prepare, porque eu e a Janja vamos percorrer esse país. Vou dar muito pulinho por aí, porque o país precisa de ânimo, de motivação”, disse o presidente em sua última live do ano, na terça-feira (19).
Além disso, Lula vai iniciar uma série de visitas a cidades mineiras em 2024, ano de eleição municipal, com o objetivo de inaugurar obras e projetos do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O PT e o governo federal pretendem concluir até abril o planejamento macro para as eleições do ano que vem. Em relação a Minas Gerais, Lula pediu prioridade para 12 municípios. São cidades de médio porte já administradas pelo partido, como Contagem e Juiz de Fora.
A falta de visitas a Minas Gerais provocou reclamação nos bastidores, por parte de correligionários.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também chegou a cobrar uma presença maior de Lula em território mineiro, quando os dois tiveram uma reunião no Palácio do Planalto.
Pacheco lembrou que o estado foi importante na vitória de Lula, além de buscar uma dobradinha com o Planalto para ganhar terreno político em cima do desgaste de Romeu Zema, por causa da dívida do estado.
A título de comparação, em 2003, com apenas 11 dias do seu primeiro mandato, Lula havia viajado com uma comitiva de 30 ministros para o Vale do Jequitinhonha (MG). À época, participou de uma caravana no Programa Fome Zero, ao lado do governador tucano Aécio Neves (MG).
Neste seu terceiro mandato, o petista elencou como uma de suas prioridades ao tomar posse a reinserção do Brasil na geopolítica internacional e por isso decidiu viajar por praticamente todos os continentes, para visitas oficiais a alguns países e para participar de cúpulas de fóruns internacionais.
O petista realizou 15 viagens ao exterior, em um total de 24 países. Esteve nos Estados Unidos, China, França, Argentina e em nações africanas, por exemplo. Também participou de grandes cúpulas, como a do G20, a do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a COP28, a conferência das Nações Unidas para mudanças climáticas.
O giro internacional é justamente o argumento apresentado pela deputada Camila Jara (PT-MS) para o fato de ele não ter ido ao estado neste ano.
“O presidente preferiu concentrar esforços nas agendas internacionais para reconstruir o prestígio do Brasil e articular pautas ambientais. E isso foi muito bom para o Mato Grosso do Sul, porque acabamos de criar o fundo estadual em defesa do Pantanal, com recursos de embaixadas”, disse.
A parlamentar comentou ainda que a inauguração da fábrica de fertilizantes em Três Lagoas (MS) foi adiada para o ano que vem porque o presidente queria participar do seu lançamento.
A ideia é que ele vá à cidade e a Campo Grande —onde a deputada é pré-candidata à prefeitura. Bolsonaro ganhou no estado na última eleição.
No plano interno, o mandatário adotou como um de seus lemas a reconstrução de pontes e a criação de um novo pacto federativo. Disse que iria se reunir com prefeitos e governadores, independentemente de seus partidos e correntes ideológicas.
De fato, o presidente esteve ao lado de alguns de seus principais opositores. Após a tragédia das chuvas em São Sebastião (SP), se encontrou com Tarcísio de Freitas anunciando medidas para amenizar o estrago das intempéries climáticas.
Em outra ocasião, almoçou no Palácio Piratini com o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB).
Além de Minas Gerais, Lula não cumpriu nenhuma agenda oficial em outros sete estados: Acre, Alagoas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Santa Catarina e Tocantins.
Por outro lado, o petista esteve repetidas vezes no Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia. Foram cinco visitas a cada um desses estados.
Em um sinal de prestígio de seu ministro da Casa Civil, Rui Costa, Lula escolheu uma cidade da Bahia, Santo Amaro, para realizar o relançamento nacional de uma de suas principais vitrines, o programa Minha Casa, Minha Vida.
Lula também esteve seguidas vezes no Rio de Janeiro, cidade escolhida para o lançamento de outra vitrine de seu terceiro mandato, o Novo PAC. O programa foi apresentado oficialmente em uma grande cerimônia no Theatro Municipal, com a presença de quase todos os governadores e a cúpula do Congresso Nacional.
A cidade é a única grande capital em que o petista tem um aliado no comando do Executivo municipal, com Eduardo Paes (PSD).
A Presidência da República disse em nota que o governo não faz distinção entre prefeituras ou governos estaduais por causa de seus partidos políticos.
A gestão Lula acrescenta ainda que o próprio mandatário tem afirmado que o objetivo para 2024 é visitar todos os estados brasileiros.
“Desde janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se dedicado ao projeto de reconstrução de programas e ações do governo que [são] fundamentais para a melhoria da qualidade de vida da população e que foram negligenciados na gestão anterior e para reestabelecer o ambiente de diálogo democrático com governos estaduais e municipais”, afirma a nota.
O governo cita ainda o encontro com os 27 governadores e prefeitos das cidades brasileiras para discutir as ações consideradas prioritárias a serem realizadas pelo governo federal em cada estado, “o que demonstra o compromisso pelo respeito e pela retomada do pacto federativo”.