Reportagem: Helizardo Guerra
Enquanto muitos cidadãos de Epitaciolândia enfrentam diariamente ruas intrafegáveis, iluminação pública precária e coleta de lixo irregular, a Prefeitura decidiu investir R$ 650 mil em um show da cantora Joelma, previsto para o XIII Circuito Country e Feira de Agronegócio, em 2026. O contrato, firmado com a empresa J. Music Editora e Produções Artísticas Ltda., foi oficializado por meio da inexigibilidade de licitação nº 021/2025 e ratificado pelo prefeito Sérgio Lopes em 9 de setembro, com publicação no Diário Oficial do Estado.
A decisão vem provocando indignação entre os munícipes e moradores e críticas de autoridades locais, como o vereador Cleomar Portela, que não se opõe à cultura ou aos artistas, mas questiona a prioridade da gestão. “Não sou contra a cultura, nem contra os artistas, mas é inadmissível que o município gaste R$ 650 mil em um evento que só acontecerá no ano que vem, enquanto as ruas estão intrafegáveis, a iluminação pública às escuras e a coleta de lixo não atende aos bairros mais afastados”, afirmou o parlamentar.
Cleomar enfatiza que seu posicionamento não visa sensacionalismo, mas sim cobrar a correta aplicação dos recursos públicos. Para ele, a lógica da administração deveria ser simples: garantir serviços essenciais à população antes de investir em festas ou eventos de grande porte. “Um cidadão comum, ao receber o salário, paga água, luz, alimentação e serviços básicos. Só depois, se sobrar, leva o filho a uma lanchonete ou a um parque. Na administração pública deveria ser a mesma praxe”, argumentou.
O vereador sugeriu ainda uma medida prática: ouvir a população sobre suas reais prioridades. “Proponho uma enquete com os moradores de Epitaciolândia: contratar um show de um cantor famoso ou melhorar a infraestrutura da cidade? Se a maioria optar pelo show, não cobrarei mais melhorias básicas da gestão. Mas, se a população priorizar serviços essenciais, a Prefeitura precisa ajustar suas prioridades imediatamente”, reforçou.
Enquanto a divulgação do evento nas redes sociais da Prefeitura gerou comentários cobrando melhorias urgentes, até o fechamento desta edição, não houve manifestação oficial da administração sobre as críticas.
Epitaciolândia enfrenta, assim, um dilema que poderia ser facilmente resolvido: planejar a cultura sem negligenciar a cidadania. Investir em lazer e entretenimento é legítimo, mas transformar um evento musical em prioridade enquanto serviços básicos permanecem à margem da atenção pública revela preocupantes prioridades invertidas.