Reportagem: Helizardo Guerra & Josemir Oliveira
De Xapuri — a pequena e pacata cidade com alma amazônica no Acre — emerge a figura de Ribamar de Jesus Nunes Gomes, conhecido nas estradas empoeiradas e asfaltadas de todo o continente como Natal, o Lobo Solitário.
Não é uma alcunha inventada, mas um título conquistado a cada quilômetro percorrido sozinho — sob o capacete, com o ronco da motocicleta como única companhia constante.
Natal não é apenas um motociclista.
É uma crônica viva das Américas, um homem que trocou a previsibilidade da rotina por um horizonte em movimento contínuo. Sua moto, robusta e fiel, não é apenas um meio de transporte — é a extensão da sua vontade indomável e da sua sede por liberdade.
Essa máquina já cruzou os limites da floresta úmida amazônica até as terras geladas da Patagônia chilena, escalou as alturas andinas do Peru e da Bolívia, enfrentou o calor cortante do deserto do Atacama e sentiu as brisas atlânticas que sopram das costas brasileiras e uruguaias.
Em cada curva, Natal deixa o rastro de uma história e o registro de um homem que transforma cada jornada em um reencontro com o próprio destino.
“Todos esses países são maravilhosos. Não tem nenhum que eu diga assim: esse é bom, esse é ruim, esse é pior do que o outro. Todos são maravilhosos. Estive no Salar de Uyuni, na Bolívia; na Carretera de Los Caracoles, no Chile; no deserto do Atacama, em Ushuaia, na Patagônia argentina e chilena, na Carretera Austral, e naquele lago lindo no Peru. É muita beleza que a gente vê por aí.”
O que move Natal não é a pressa de chegar, mas a profundidade da jornada.
O Lobo Solitário carrega consigo a quietude de Xapuri — uma serenidade que o permite absorver a vastidão da América do Sul. Hospeda-se em pousadas simples, compartilha mate com caminhoneiros argentinos, aprende palavras em quíchua e aimará, e observa a vida pulsar entre metrópoles agitadas e vilarejos esquecidos.
A solidão de andar sozinho não é um fardo — é a sua forma de liberdade.
É no silêncio do motor cortando a paisagem que Natal encontra as melhores conversas consigo mesmo e a chance de ver o mundo sem filtros.
Com poucas palavras e muitas imagens, ele transforma cada parada em uma memória, cada foto em uma confissão silenciosa. Seu diário visual é o testemunho de uma façanha: ter percorrido quase toda a América do Sul de ponta a ponta, levando consigo o nome e a essência da sua terra natal, Xapuri, por onde passa.
Natal, o Lobo Solitário, é a prova viva de que a maior aventura não é apenas cruzar fronteiras — é aceitar o caminho e o silêncio, encontrando em cada estrada um novo capítulo da sua interminável e grandiosa história.