Neguinha da Pensão

ICONES DE BRASILÉIA E EPITACIOLANDIA POR IVANA CRISTINA
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colunista: Ivana Cristina
Colaboração: Maisa
Ícones de Brasileia e Epitaciolandia

Seu nome é Maria Coelho da Silva, mas todos a conhecem por Neguinha. Neguinha nasceu no Seringal Mangueira, no dia 03 de março de 1950. Teve uma infância feliz, mas como a maioria das jovens que moram no Seringal, casou-se aos 16 anos com Francisco Gonçalves de Oliveira. Juntos tiveram 06 filhos. A vida no seringal era muito difícil, muito trabalho e pouco retorno financeiro. Com os filhos crescendo e precisando estudar, foram morar mais perto da cidade, na casa do seu sogro, na colônia Muquiço, Km 05, ramal, na Estrada do Pacífico. A lida era diária, muito trabalho na roça, criação de pequenos animais e os afazeres domésticos. Ela e seu esposo Francisco criaram os filhos em meio às dificuldades da época. Mas, o destino foi implacável e Neguinha ficou viúva com seis filhos pequenos para criar.
A vida da zona rural exigia muito trabalho braçal e pouco retorno financeiro. Só quem sobrevive da terra sabe.
Neguinha mudou-se para a cidade com seus filhos e foi trabalhar na Fábrica de Castanhas em Cobija. A rotina era cansativa, passava o dia sentada acionando uma máquina com a força braçal, o ganho era pouco, mal dava para sustentar os filhos. Estava há quatro anos trabalhando na fábrica, sem perspectiva de melhora. Resolveu mudar e foi trabalhar como vendedora de um comércio na rua do antigo hospital. Nesse período percebeu que os parentes dos pacientes procuravam um lugar para almoçar e não havia na localidade. Com seu espírito empreendedor, Neguinha alugou um espaço na beira do rio e abriu uma pensão com comida caseira, auxiliada por sua filha Irene, uma cozinheira de mão cheia. A partir daí, a vida melhorou. Neguinha ama cozinhar e com a pensão podia acompanhar mais de perto o crescimento dos filhos. O movimento dos fregueses era intenso e mudou-se para um espaço maior, na parte alta, na rua do hospital. Mas, o aluguel consumia muito a sua renda e construiu uma pensão ao lado da sua casa na rua da antiga Emater, hoje, rua 02 de Novembro.
Seus filhos cresceram, casaram e seus netos vieram encher sua vida de alegria. Mas, o coração da Neguinha ficou enlutado, quando seu filho mais novo faleceu. Católica, ela teve fé e força para continuar em frente.
Neguinha dedicou sua vida ao trabalho e à criação dos filhos. A convite de uma amiga, Neguinha começou a frequentar o Centro dos Idosos. Lá conheceu novas pessoas, praticou atividade física e entre uma dança e outra, conheceu o amor. Neguinha aos 65 anos de idade, encontrou o amor de sua vida, Manoel Raimundo, como diz Martinho da Vila, “O amor não tem cor, o amor não tem idade…”
O tempo é precioso e após um breve namoro, casaram na “igreja verde” como ela alegremente fala.
Hoje, ela não trabalha mais na pensão. Coube a sua filha Irene, essa tarefa! Irene herdou da mãe o amor pela culinária. Preparando e vendendo deliciosas marmitex. Tudo feito com muito amor, zelo e carinho.
Neguinha está casada na “igreja verde” há dez anos com Manoel Raimundo, mas basta olhar um para o outro, que você percebe a cumplicidade dos dois. Neguinha é linda, gentil, faceira, tem o sorriso no olhar, uma meiguice que encanta. É uma mulher forte, que apesar dos impropérios da vida, sempre está sorrindo.
Hoje, aos 75 anos de idade, ela vive cercada pelo amor de Manoel, seus filhos, netos e bisnetos. Eles nos mostram que nunca é tarde para amar e ser amado.