Neném do Encrenca

ICONES DE BRASILÉIA E EPITACIOLANDIA POR IVANA CRISTINA
Compartilhe

colunista: Ivana Cristina
Colaboração: Raimundo Silva de Oliveira(Codilha)
Ícones de Brasileia e Epitaciolandia

Seu nome de batismo era Maria da Conceição, mas todos a conheciam em Epitaciolandia por Neném do Encrenca. Era uma mulher bonita, forte, tinha a pele queimada de sol, usava um lenço branco na cabeça, carismática, fazia amizade com facilidade, porém tinha uma vida muito difícil, criou seus filhos lavando roupa “pra fora” como diziam antigamente. Dona Neném lavava roupas como ninguém. O Igarapé Encrenca era seu quintal! Tinha uma tábua de lavar roupa desgastada pelo tempo. Lavava e engomava para muitas famílias. Dona Neném era muito prestativa, orientava as jovens mães de recém nascidos, como lavar um “cueiro”. Fralda descartável, nem pensar! Era o “cueiro” que fazia sucesso na época, um pano enorme, branquinho, que ao colocar no “anil” ficava mais alvo ainda. A tardinha ela passava na Avenida Santos Dumont, levando as trouxas de roupas limpinhas, na cabeça, para entregar aos seus fregueses. Não tinha máquina de lavar roupa na época e toda a roupa era lavada na mão. O ferro era a brasa, mas, ela utilizava os “coquinhos” do urucuri, dentro do ferro. Um instrumento pesado, que produzia muita fumaça e era bastante quente. Quem precisava de academia, nessa época, tinha o ferro de engomar! Admirava muito a Dona Neném, ela e suas filhas Raimunda e Rita, ajudavam na árdua tarefa, trabalhavam com dedicação e amor ao que faziam. Além das meninas, ela era mãe do Codilha, ele era peão de boiadeiro. Naquele tempo não havia caminhões para transportar o gado, devido às condições da BR 317. Cabia aos peões fazer essa dura jornada, que demorava dias para levar de 500, 1000 e até 1.500 cabeças de gado para Rio Branco. Saiam da estrada de Assis Brasil e passavam tocando a boiada de madrugada ao som do berrante, pela Avenida Santos Dumont, eu corria para a janela, às 3 horas da manhã para olhar aquele enorme rebanho, indo a um destino incerto. No outro dia, os rastros e as fezes do rebanho, era a evidência de que eu não estava sonhando.
Era um sonho dos meus amigos da época, se tornar um peão boiadeiro igual ao Codilha, usar calças largas, botas, um chapéu vistoso, montado em um enorme cavalo, soprando um berrante e conduzindo uma comitiva. Dona Neném aguardava ansiosamente o retorno do filho.
O tempo passou!
Dona Neném faleceu! Depois da sua partida, nem o Igarapé Encrenca foi o mesmo! Antes, suas margens eram cheias de árvores, derrubaram as árvores e “plantaram” casas. O Encrenca sofre pela ação do homem. Logo o Encrenca que a Dona Neném tinha tanto zelo. Lembro da água fresquinha, limpa, que deixava a roupa “alvinha”! Quantas recordações! Acompanhei muito minha mãe nas “lavagens de roupa no Encrenca”! Foi no Igarapé Encrenca, com a ajuda da minha mãe, que dei meus primeiros mergulhos.
Hoje, o Igarapé Encrenca do passado pede socorro aos homens do presente, para continuar existindo, voltar a abastecer a cidade no período do verão, como na época da sua guardiã, Dona Neném do Encrenca.
Dona Neném do Encrenca, descansa em paz!