Pouco depois de partir de Pyongyang, capital da Coreia do Norte, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, visitou a igreja Church of Life-Giving Trinity.
A congregação é uma Igreja Ortodoxa Russa representativa e foi um dos locais pelo qual Putin passou na primeira visita à Coreia do Norte em 24 anos.
Desde que começou a “operação especial” na Ucrânia, a Rússia sob administração de Putin tem ficado cada vez mais isolada da comunidade internacional. O regime russo precisa de aliados e os encontrou em um pequeno círculo de Estados dispostos a apoiá-lo. A Coreia do Norte é uma dessas nações e compartilha um pequeno trecho de fronteira com a Rússia.
Como uma potência na produção de armas, artilharia e mísseis, a Rússia é uma aliada de grande interesse para a Coreia do Norte que procura desesperadamente tecnologia e recursos financeiros.
Em 2023, Putin prometeu ajudar o programa espacial norte-coreano e as autoridades da Coreia do Norte enviaram milhares de trabalhadores para a Rússia.
Rússia e Ucrânia ocupam, respectivamente, a 62ª e 77ª da Lista de Países em Observação. Já a Coreia do Norte ocupa o primeiro lugar na Lista Mundial da Perseguição 2024 e está no topo desta lista há mais de 20 anos. Ambos os documentos são editados anualmente pela Portas Abertas e classificam os países onde os cristãos são mais perseguidos.
Pacto de mútua defesa
Na visita recente e breve, o presidente russo participou de paradas, shows, e assinou um pacto de mútua defesa com Kim Jong-un, atual líder da Coreia do Norte. A perseguição a cristãos só vem aumentando após 10 anos de governo de Kim, que tornou ainda mais severa as prisões de cristãos e aumentou a busca por igrejas secretas no país.
O tratado estipula que as duas nações ajudem uma à outra em caso de agressão. Pouco antes de entrar no avião para o Vietnã, Putin visitou a Igreja Ortodoxa Russa, onde falou com arcebispo, participou de um breve culto e acendeu uma vela.
A visita de Putin à Coreia do Norte e à igreja em Pyongyang tem propósitos claros. O primeiro deles é enfatizar a forte conexão com o país. A Igreja Ortodoxa Russa foi construída na capital norte-coreana depois que o pai de Kim Jong-un, Kim Jong-il, visitou uma igreja na cidade de Irkustk, na Rússia, em 2002.
Outro motivo para a visita é a publicidade que Putin promove de si mesmo como um devoto cristão e defensor da Igreja Ortodoxa Russa. Em sua perspectiva, um verdadeiro russo é um russo ortodoxo.
Por fim, o líder russo busca defender a aparência de liberdade de religião na Coreia do Norte, o que não é a realidade.
Perseguição extrema aos cristãos
Desde 1950, cristãos são ferozmente perseguidos na pelas autoridades norte-coreanas, e os que não estão presos, mantêm a fé em Jesus em segredo.
Por causa da preocupação com sua reputação internacional, a Coreia do Norte estabeleceu a Federação Cristã Coreana e fundou quatro igrejas oficiais norte-coreanas, todas representativas e localizadas na capital, Pyongyang: a Igreja Ortodoxa Russa, uma Igreja Católica Romana e duas igrejas protestantes.
As igrejas simbólicas só permitem cultos quando estrangeiros as visitam. Como na Rússia, as igrejas oficiais servem para apoiar as ações e ideologias dos governantes. A verdadeira igreja de Cristo, com 300 a 500 mil cristãos aproximadamente, são forçados a viver a fé em segredo.
Tanto Putin quanto Kim se sustentam no poder por meio da opressão e grande investimento em propaganda. A visita à igreja foi mais uma estratégia de publicidade e não trouxe nenhuma diferença positiva para os cristãos perseguidos na Coreia do Norte.
A Bíblia continua sendo um livro proibido, muitos cristãos continuam presos, torturados e outros são mortos por causa da fé em Jesus
A perseguição aos cristãos na Coreia do Norte
A Coreia do Norte vende rádios que podem ser sintonizados somente nas frequências do Estado. Por isso, os cristãos devem encontrar rádios no mercado negro ou conseguir algum por meio de nossa rede de trabalho secreta na China.
A Portas Abertas opera um ministério de rádio que faz suas transmissões de fora da Coreia do Norte, mas que chega a milhares de cristãos secretos diariamente dentro do país, como a norte-coreana Ji-Ho.
Quando pequena, ela viu o pai ser levado por agentes do Estado após encontrarem um livro secreto (que só mais tarde descobriu que era a Bíblia) enterrado no jardim de sua casa. O que eles não sabiam é que na casa também havia um rádio, escondido atrás de uma das fotos dos líderes do país.