Papa Francisco afirma que ‘todas as religiões levam a Deus’ e recebe críticas

Gospel
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fonte: guiame.com.br

Em uma visita a Singapura, o Papa Francisco declarou que “todas as religiões são um caminho para Deus”, provocando uma reação negativa entre os líderes religiosos nos EUA. 

A declaração foi feita em um encontro inter-religioso com jovens em uma faculdade católica pouco antes de retorno para Roma.

Na ocasião, o Papa afirmou que religiões diferentes são como “idiomas diferentes” para se chegar a Deus.

“Se você começar a afirmar: ‘Minha religião é mais importante que a sua, a minha é verdadeira e a sua não’. Onde isso nos levará?”, perguntou ele, segundo o portal Crux Now. 

“Só existe um Deus, e cada um de nós tem uma linguagem para chegar a Deus. Alguns são xeques, muçulmanos, hindus, cristãos, e eles são caminhos diferentes [para Deus]”, acrescentou ele.

Após os comentários do Papa, o bispo Joseph Strickland — que supervisionou a Diocese Católica Romana de Tyler, Texas, até sua demissão pelo Vaticano em 2023 — disse em um post no X: 

“Por favor, orem para que o Papa Francisco declare claramente que Jesus Cristo é o único Caminho. Negar isso é negá-Lo. Se negarmos Cristo, Ele nos negará, Ele não pode negar a Si mesmo”.

Strickland foi afastado por discordar de Francisco em relação à proibição de políticos católicos pró-aborto de receberem a comunhão e sobre o grau de aceitação da comunidade LGBT na Igreja Católica. Uma petição em defesa de Strickland, criada no ano passado, afirmou que sua remoção se deu porque ele “corrigiu publicamente várias declarações heterodoxas do Papa Francisco”.

Se referindo à natureza universal de Deus, o Papa afirmou: “Uma vez que Deus é Deus para todos, então somos todos filhos de Deus”.

Heresias

Em Cingapura, os católicos representam cerca de 3,5% da população, enquanto os cristãos constituem 19%, os budistas 31%, os muçulmanos 15%, e há minorias significativas de hindus e sikhs.

Francisco também incentivou os jovens a se envolverem e apoiarem o diálogo inter-religioso.

“Para o diálogo inter-religioso entre os jovens, é preciso coragem, porque a juventude é o momento da coragem em nossas vidas”, disse ele.

O padre Calvin Robinson, que recentemente se mudou da Inglaterra para liderar uma igreja no oeste de Michigan, também criticou a declaração do Papa em um post no X: 

“Esta é uma declaração contra as Escrituras. As Escrituras nos ensinam o oposto. O portão para o Céu é estreito”.

E continuou: “Nas próprias palavras de Cristo: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim'”.

Os comentários do Papa surgem em um contexto de reações de setores católicos conservadores, que relembram controvérsias anteriores.

Críticas

Em maio, Francisco já havia enfrentado críticas e acusações de heresia nas redes sociais após declarar em uma entrevista ao “60 Minutes” que o coração humano é “fundamentalmente bom”. 

Ao ser questionado pela entrevistadora Norah O’Donnell sobre o que lhe dá esperança no mundo, o papa respondeu “tudo”, mencionando atos de bondade das pessoas como evidência da bondade intrínseca da humanidade.

“Você vê tragédias, mas também vê tantas coisas bonitas. Você vê mães heroicas, homens heroicos, homens que têm esperanças e sonhos, mulheres que olham para o futuro. Isso me dá muita esperança. As pessoas querem viver. As pessoas seguem em frente. E as pessoas são fundamentalmente boas. Somos todos fundamentalmente bons. Sim, há alguns canalhas e pecadores, mas o coração em si é bom”, declarou ele na ocasião.

Na época, muitos criticaram o Papa por suas observações, com alguns o acusando de não compreender o ensinamento básico do Evangelho. Outros citaram partes das Escrituras que ensinam que somente Deus é bom e que a humanidade tem uma natureza pecaminosa.

Alguns internautas no X apontaram que o comentário de Francisco parecia refletir pelagianismo, uma heresia do século V que negava o pecado original e defendia a bondade essencial da humanidade.

Durante sua viagem ao Cazaquistão em 2022, ele fez declarações semelhantes. O bispo auxiliar Athanasius Schneider de Astana, um crítico frequente, comentou sobre o risco de transformar a religião em um “supermercado de religiões”.