No último sábado (13), centenas de nicaraguenses assistiram a uma missa sob vigilância policial, depois que as autoridades proibiram uma procissão religiosa pelas ruas da capital por motivos de “segurança interna”.
“Perdoe-os, Senhor, porque eles não sabem o que estão fazendo”, disse o cardeal Leopoldo Brenes, ao falar sobre as tensões e a prisão do bispo Rolando Álvarez, que foi detido sob a acusação de “desestabilizar o país”.
O governo de esquerda, comandado pelo presidente Daniel Ortega, já ordenou vários atos de repressão contra a Igreja, desde o início de agosto.
‘Perseguição contra a Igreja’
Até agora, sete estações de rádio pertencentes a instituições religiosas foram fechadas, líderes religiosos foram proibidos de sair de suas comunidades e Rolando Álvarez foi acusado de “incitar atos violentos”.
Os membros da comunidade afirmam que, sem dúvida, tudo isso se trata de uma perseguição contra a Igreja, conforme notícias do Euronews.
“A verdade é que a igreja não provocou um confronto. A igreja sempre foi perseguida pelos executores deste governo. Essa é a realidade e não pode ser escondida”, disse María Cárdenas, moradora de Manágua.
“De 1979 a 1990 , a igreja foi perseguida e está acontecendo de novo. Se ela [a igreja] não se ajoelhar ignorando essas coisas, então será perseguida novamente. Não podemos viver sob essa coação”, ela continuou.
Daniel Ortega, da Nicarágua, ordenou q as igrejas católicas do país sejam fechadas e q os cultos sejam proibidos. Por enquanto os padres não estão sendo presos, mas fontes locais dizem q é só uma questão de tempo até isso acontecer. pic.twitter.com/yGH5qZfVxw
‘Cristãos estão sendo preparados para enfrentar a perseguição’
O presidente Ortega, que está no poder há 15 anos, tem sido abertamente hostil à Igreja no país. Ele alegou que os bispos fizeram parte de uma tentativa de golpe para expulsá-lo do cargo, em 2018, porque apoiaram manifestações antigovernamentais que seu regime reprimiu brutalmente. Ele chegou a chamar os bispos de “terroristas” e “demônios de batina”.
A Portas Abertas informou que os cristãos estão sendo preparados para enfrentar a perseguição, após incluir a Nicarágua na 61ª posição da Lista de Países em Observação.
O contexto de opressão aos cristãos tem se intensificado desde 2018, quando o governo passou a proibir eventos cristãos e a prender os seguidores de Cristo, sempre com a desculpa de que estão “desestabilizando o Estado”.
Leis contra o cristianismo
O governo aprovou, recentemente, leis que impactaram as ONGs e centros de educação no país. Várias instituições cristãs foram interditadas por causa dessa lei.
O Estado também aumentou a pressão contra os “inimigos do governo”. Ortega e sua esposa, Rosário Murillo, que ocupa o cargo de vice-presidente há dois mandatos, suspeitam de todas as pessoas ou organizações vinculadas aos protestos de 2018.
Eles fecharam universidades, ONGs e outras instituições que em algum momento manifestaram “insatisfação com as políticas do casal”.
Pastores vigiados
Muitos cristãos apoiaram as manifestações de 2018 contra ações do governo que eram incoerentes com o Evangelho, consolaram os que perderam parentes nas manifestações e socorreram as vítimas feridas pelos policiais.
Por tudo isso, as igrejas estão sendo agora prejudicadas e os líderes cristãos estão sob forte vigilância. Foram registrados casos de invasão e violência na casa de pastores.
As famílias foram muito afetadas pelas falsas denúncias, que pretendem limitar a liberdade dos pastores. Desde 2021, foi registrada a prisão de 22 líderes cristãos. Todos estavam ministrando os cultos no momento da detenção e não tiveram direito a julgamento.
Um líder cristão foi sequestrado e está desaparecido desde a semana passada e 12
cristãos foram agredidos fisicamente por causa da perseguição, informou a Portas Abertas.
Restrição às instituições cristãs
Regularizar as igrejas têm sido um verdadeiro desafio também. Novos documentos são exigidos quase mensalmente e há rumores de uma nova lei que pretende colocar todas as igrejas do país sob a fiscalização de um novo órgão de vigilância.
O governo afirma que essa medida procura evitar ações ilegais das igrejas contra a população, mas as burocracias na verdade só têm cooperado para fechar e confiscar os bens de igrejas que funcionavam regularmente há anos.
O governo pressiona também a relação com países estrangeiros. É proibido que cidadãos e instituições nicaraguenses tenham qualquer tipo de interação com o exterior, inclusive financiamentos, pois o governo afirma que isso traz riscos à segurança nacional.
Muitas igrejas e ONGS que contam com a ajuda de organizações internacionais foram fechadas por esse motivo. Nos últimos quatro anos, 1.268 ONGs foram fechadas.
As mudanças estão acontecendo rapidamente por causa das entidades do governo que têm sido enviadas pelo presidente para executar leis que penalizam e prendem pessoas suspeitas de oposição.