“PIX de R$ 500” em filiação de Alan Rick provoca apuração do Ministério Público no Acre

Política
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Reportagem: Helizardo Guerra 

O Ministério Público Estadual (MPE) do Acre investiga uma denúncia que aponta indícios de abuso de poder econômico durante o evento de filiação do senador Alan Rick ao partido Republicanos. A apuração teve início após a divulgação de um áudio e de publicações em redes sociais que mostram o presidente da Associação dos Moradores do Conjunto Ruy Lino, Marquinhos Barbosa, convocando moradores da comunidade para participar de um “sorteio surpresa” de R$ 500, com pagamento via PIX.

Segundo o próprio líder comunitário, a iniciativa teria como objetivo “estimular a presença de moradores” no ato político. No entanto, o sorteio não constava na programação oficial do evento, o que levantou suspeitas de que a ação pudesse ter sido usada como estratégia para inflar o público e criar um ambiente favorável à filiação do senador — conduta que pode configurar vantagem política indevida.

Versões contraditórias e mudança de discurso

Em contato com a reportagem, Marquinhos Barbosa apresentou versões divergentes sobre o episódio. Num primeiro momento, afirmou que o sorteio “não aconteceu porque algumas pessoas não compareceram”. Posteriormente, declarou que a premiação seria “realizada após a filiação do senador”, o que contradiz o conteúdo de suas próprias publicações nas redes sociais.

As contradições chamaram a atenção dos investigadores e devem pesar na análise do MPE, que poderá intimar o líder comunitário a prestar esclarecimentos formais. Fontes ligadas ao órgão confirmaram que o áudio e demais materiais digitais estão sendo periciados, a fim de identificar se houve uso indevido de recursos financeiros e se a iniciativa contou com apoio ou anuência de dirigentes partidários.

Especialistas apontam risco de irregularidade eleitoral

Um membro do Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC) ouvido pela reportagem, sob reserva de identidade, explicou que mesmo fora do período eleitoral, atos públicos que associem benefícios financeiros, brindes ou sorteios a atividades políticas podem configurar irregularidade.

“A filiação partidária é, em tese, um ato interno. Mas quando se transforma em evento aberto e se vincula a prêmios ou sorteios, pode assumir caráter de promoção pessoal. Nesses casos, cabe apuração do Ministério Público Eleitoral e da Justiça Eleitoral”, afirmou o especialista.

Ainda conforme a análise técnica, caso se comprove que Marquinhos Barbosa agiu de forma isolada, o episódio pode ser enquadrado como propaganda eleitoral antecipada irregular, com base no artigo 36-A da Lei nº 9.504/97.

Por outro lado, se ficar demonstrado que a ação teve o propósito de beneficiar o senador ou o partido, o caso pode configurar abuso de poder econômico, conforme o artigo 22 da Lei Complementar nº 64/90, que prevê sanções severas — incluindo multa, inelegibilidade e cassação de mandato.

Repercussão política e silêncio do partido

Até o fechamento desta reportagem, o Republicanos não havia se manifestado oficialmente sobre o episódio. Fontes próximas à legenda no Acre afirmam que o evento de filiação contou com ampla mobilização de lideranças políticas e comunitárias, o que reforça o peso simbólico da cerimônia para o partido.

Nos bastidores, interlocutores reconhecem que a investigação pode gerar desgaste político para Alan Rick, considerado um dos principais nomes da sigla no estado e cotado para disputar cargos majoritários em 2026.

Investigação em andamento

O Ministério Público Estadual confirmou a existência de uma notícia de fato relacionada ao caso, mas informou que o procedimento tramita sob sigilo. A apuração busca identificar a origem dos recursos prometidos e possível envolvimento de agentes políticos ou partidários.

A expectativa é de que, nas próximas semanas, o MPE ouça o líder comunitário e solicite informações adicionais ao Republicanos. Caso sejam confirmadas irregularidades, o caso poderá ser remetido ao Ministério Público Eleitoral, com pedido de Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE).

Enquanto o caso segue sob análise, o episódio acende um alerta sobre os limites entre mobilização comunitária e favorecimento político, em um cenário pré-eleitoral cada vez mais sensível, marcado por disputas internas e estratégias de influência no tabuleiro político acreano.