Plano de Educação do governo Lula é criticado por frentes parlamentares e juristas evangélicos

Gospel
Compartilhe

fonte: folha gospel

A Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE) emitiu uma extensa nota de manifestação pública, expondo o que considera como pontos críticos no “Plano Nacional de Educação 2024-2034”.

Segundo a ANAJURE, “o Documento Referência afasta-se da imparcialidade esperada das políticas de Estado … e propõe para a educação nacional a imposição de concepções ideológicas radicais e controversas, contrárias às presentes disposições da legislação nacional e à vontade da parcela majoritária da população”.

O “Plano Nacional de Educação 2024-2034”, que visa orientar as políticas educacionais para a próxima década no Brasil, será discutido na Conferência Nacional de Educação (CONAE) entre os dias 28 e 30 de janeiro, em Brasília.

“A Associação Nacional de Juristas Evangélicos, em seu compromisso em defesa dos direitos fundamentais, em especial, a liberdade religiosa e educacional … ressalta a preocupação com as diretrizes, metas, proposições e estratégias apresentadas no Documento Referência para a elaboração do Plano Nacional de Educação 2024-2034”, declarou a entidade.

“Especialmente no que se refere aos apontamentos contrários à liberdade religiosa das escolas confessionais e à tentativa de adoção e institucionalização de teorias críticas e pós-estruturalistas de gênero no sistema educacional brasileiro”, apontou.

A ANAJURE também aponta os diversos trechos em que o “Documento manifesta predileções partidárias–ideológicas, adotando tom mais condizente com propostas partidárias de governo do que com um documento estatal que objetiva orientar a elaboração de políticas públicas.”

‘A família é a base da sociedade’

Sobre o conteúdo referente à ideologia de gênero destacado no Plano Nacional de Educação, a ANAJURE diz:

“A tentativa de impor aos estudantes – crianças e adolescentes – novas teorias que repercutem nos valores morais da sociedade brasileira suscita sérias reflexões sobre sua aplicabilidade no Sistema Nacional de Educação”.

E continua: “Em primeiro lugar, sobre a teoria de gênero em si, pelo seu caráter controverso e que exige uma ampla e profunda discussão sobre suas premissas, fundamentação científica, conclusões, e limites de aplicabilidade. Ademais, há que se considerar, de igual modo, os limites entre as responsabilidades de família e escola na educação das crianças sobre temas morais”.

A ANAJURE lembra que a Constituição Federal reconhece a família como sendo a base da sociedade, devendo ser respeitada sua primazia na educação, inclusive moral, dos filhos menores (arts. 226, 227 e 229).

E cita outros entendimentos na mesma linha, apontando que “os principais tratados, pactos e declarações de direitos humanos internacionais estabelecem que é tarefa da família a formação moral das crianças e adolescentes”.

A entidade de juristas cristãos diz ainda que “a ideia de uma prevalência estatal diante de assuntos sobre os quais, frise-se, os pais devem preponderar, demonstra uma desvirtuação do papel do Estado, que, ao extrapolar a esfera política, sufoca a soberania parental em matérias que a própria legislação deixou ao alvedrio da família”.

E afirma: “A teoria de gênero, portanto, contraria um costume e direito já consolidado na sociedade brasileira e em todo o mundo: a primazia dos pais na educação moral – e aqui se incluem ensinos sobre sexualidade – dos filhos.”

Liberdade religiosa

Com relação à liberdade religiosa das escolas confessionais, a ANAJURE lembra que “o STF reconheceu que o art. 210, § 1º, da Constituição Federal, autoriza o ensino religioso confessional nas escolas públicas; bem como estipula o fato de as crianças e os adolescentes possuírem direito subjetivo ao ensino religioso, de matrícula facultativa, como disciplina dos horários normais das escolas públicas de nível fundamental, ministrado conforme suas confissões religiosas.”

Segundo a ANAJURE, esta posição deve prevalecer sobre o que o Plano Nacional de Educação propõe, ao dizer:

“Um Estado laico é uma manifestação do secularismo em que o governo estatal mantém uma posição oficial de imparcialidade em relação a assuntos religiosos, não demonstrando apoio ou oposição a qualquer religião. A educação pública, portanto, deve seguir o preceito fundamental da laicidade.”

A entidade de juristas cristãos diz que “É preciso distinguir entre laicidade (laicidade positiva ou aberta) e laicismo (laicidade restritiva). A laicidade, como dito, impõe ao Estado não só uma obrigação negativa, mas também positiva.”

E explica: “No aspecto negativo, significa que [o Estado] não pode promover ou subvencionar uma religião em detrimento das outras, adotar determinada confissão como oficial, ou impedir a manifestação de qualquer visão religiosa. No viés positivo, por sua vez, a laicidade impõe ao Estado o dever de garantir, a todas as confissões religiosas, a sua expressão, seja esta privada ou pública. Portanto, ao garantir o ensino religioso nas escolas, o Estado de forma alguma viola o seu caráter laico; pelo contrário, garante-o.”

Segundo a ANAJURE, além da ideologia de gênero e de políticas laicistas em relação ao ensino religioso nas escolas públicas e privadas, outros pontos do Documento Referência se apresentam como problemáticos.

“Menciona-se: conselhos e comitês fiscalizadores; desqualificação das escolas privadas e de suas liberdades constitucionais; apoio à promoção de formação em direitos humanos a partir “coletivos e movimentos” nas instituições de ensino; críticas ideológicas ao agronegócio; avaliação ideológica de desempenho dos professores; dentre outros”.

Frentes Parlamentares criticam plano

Diversas frentes parlamentares assinaram uma nota de posicionamento pedindo o adiamento da Conferência Nacional de Educação (CONAE) por considerarem que o Documento Referência deve ser reescrito por conter “viés ideológico” e “falta de rigor técnico”.

A nota foi emitida após o relatório analítico da Associação de Olho no Material Escolar que fez algumas considerações sobre o conteúdo do documento: distribuição por representações, postura autoritária expressa, viés ideológico, falta de rigor técnico e erros a respeito da qualidade na educação.

Em parte do material, por exemplo, há referências ao “enfrentamento ligados a (sic) superação das reformas e retrocessos conservadores no âmbito educacional”, menções a “governo de extrema-direita”, “grupos conservadores e suas pautas fundamentalistas e excludentes”, “propostas ultraconservadoras”, “política retrógrada” e muitos outros. Leia aqui.

O documento das frentes faz uma série de apontamentos para mostrar que é necessário adiar o CONAE, marcado para acontecer no dia 28 de janeiro, para dar tempo de corrigir o Documento Referência que dará norte aos trabalhos do atual governo. As frentes apontam que o “Plano Nacional de Educação é uma Política Pública de Estado”, portanto, seu “objetivo único é servir a nação como um todo, devendo ser pautada por um processo amplo, plural e transparente, bem como, acima de interesses político partidários de governos”.

As frentes também falam que esse documento deve ser construído após debate amplo com representantes da sociedade civil e que o CONAE deve “promover o debate qualificado sobre a realidade brasileira, suas evoluções sociais, ambientais, contextos históricos e políticos, abraçados pela ciência e comprovação de dados científicos reais”.

“O processo de construção das diretrizes está tumultuado pela ingerência na distribuição de representações. O texto-base expõe diversas questões político-ideológicas, sem embasamento científico, ao qual recomendamos a suspensão para que todos os setores econômicos e sociais possam participar ativamente das discussões”, diz outro trecho da nota.

Assinam o pedido: Frente Parlamentar do Empreendedorismo, Frente Parlamentar Mista do Comércio e Serviços, Frente Parlamentar do Comércio e Serviços, Frente Parlamentar da Agropecuária, Frente Parlamentar em Apoio ao Produtor de Leite, Frente Parlamentar da Segurança Pública, Frente Parlamentar da Bioeconomia, Frente Parlamentar Brasil Texas, Frente Parlamentar Evangélica e Frente Parlamentar Mista em Prol do Semiárido.