Relação de Lula com os evangélicos está piorando, mostra Datafolha

Gospel
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fonte: folha gospel

relação entre os evangélicos e o governo Lula (PT) continua tensa e se deteriorando ainda mais. Pesquisa Datafolha realizada nos dias 10 e 11 de fevereiro revelou que 48% dos evangélicos consideram o governo petista ruim ou péssimo, um índice superior ao dos católicos, que registram 36% de rejeição.

No início do mandato, em março de 2023, 35% dos evangélicos reprovavam o governo Lula, dez pontos a mais do que no nicho católico. Hoje, apenas 2 em cada 10 evangélicos percebem o governo como bom ou ótimo, e 28% o classificam como regular.

No total da população, a desaprovação chega a 41%. Apenas dois em cada dez evangélicos avaliam a gestão como boa ou ótima, enquanto 28% a classificam como regular. O cenário, que já era desafiador para Lula no início do mandato, tornou-se ainda mais difícil, aumentando as dúvidas dentro do próprio partido sobre os motivos dessa rejeição.

O descontentamento com o governo não é exclusivo dos evangélicos. Mulheres, pessoas negras e pardas e eleitores de baixa renda, que historicamente formam a base de apoio de Lula, também estão cada vez mais insatisfeitos. Entre as mulheres, por exemplo, a desaprovação subiu de 26% no início de 2023 para 39% atualmente.

Esses grupos, que compõem grande parte das igrejas evangélicas, sentem diretamente os efeitos do aumento do custo dos transportes e da alta nos preços dos alimentos, fatores que têm influenciado negativamente a percepção sobre o governo.

A resistência dos evangélicos ao PT não nasceu apenas das dificuldades econômicas. Durante anos, templos evangélicos foram palco de uma intensa campanha antipetista, reforçada por uma avalanche de fake news. Essa rejeição foi alimentada por um discurso que associa o partido a pautas morais contrárias aos princípios religiosos, como a defesa dos direitos LGBTQIA+ e a descriminalização do aborto. Com a crise econômica, esse sentimento de desconfiança se intensificou, e muitos evangélicos passaram a ver no atual cenário uma confirmação das críticas que já escutavam há anos.

Diante dessa realidade, o PT tem tentado se reaproximar dos evangélicos, mas sem grandes resultados. Lula fez gestos simbólicos, como apoiar a criação do Dia da Música Gospel, e o partido lançou a “Cartilha Evangélica” para orientar candidatos e militantes sobre como dialogar com esse público. No entanto, essa estratégia esbarra em um dilema: até que ponto o partido pode flexibilizar sua posição em temas considerados sensíveis para os evangélicos sem trair suas próprias bandeiras progressistas? Evitar debates sobre aborto e diversidade seria um recuo estratégico ou uma negação dos princípios históricos da esquerda?

A cientista política Ana Carolina Evangelista, diretora-executiva do Instituto de Estudos da Religião (Iser), aponta que a insatisfação dos evangélicos não pode ser atribuída apenas à influência política dentro das igrejas. Segundo ela, a radicalização ideológica desse grupo ocorreu em paralelo à ascensão de um Brasil mais conservador nos últimos anos. Ao mesmo tempo, o governo enfrenta dificuldades concretas em melhorar a economia para a base mais pobre da população, onde os evangélicos estão fortemente presentes.

“Esse Brasil mais evangélico, de lá pra cá, faz parte de um Brasil também mais conservador, e isso está acontecendo fortemente a partir do segmento evangélico, por razões que passam por fundamentalismos teológicos, organização institucional e radicalização ideológica”, diz Evangelista.

A oposição bolsonarista percebeu esse cenário e mudou sua estratégia. Em vez de focar exclusivamente na pauta dos costumes, tem explorado o impacto econômico na vida dos eleitores evangélicos. O discurso agora trata menos de questões como banheiro unissex e mais do preço dos alimentos, do custo do transporte e do poder de compra da população. Dessa forma, a insatisfação dos evangélicos com Lula não se resume a uma questão de valores religiosos, mas também a uma frustração concreta com a falta de melhorias em sua qualidade de vida. Se o governo não encontrar uma resposta para essa realidade, a direita continuará a se fortalecer entre esse público, tornando o cenário de 2026 ainda mais desafiador para o PT.