colunista: Ivana Cristina
Colaboração: Edilene Braga
Ícones de Brasileia e Epitaciolandia
Seu Belirio
Seu nome era Sebastião Rodrigues de Castro, mas todos o conheciam por Belirio. Era um comerciante das antigas, seu comércio era “sortido” localizado na rua da frente, ponto de encontro de muitos moradores da zona rural de Brasileia. Paravam para comprar e tomar aquele café quentinho. Seus fregueses eram fiéis. Seu Belirio era carismático com a freguesia, conversava tanto, que às vezes esquecia que estava vendendo e sua esposa, Dona Francisca, era mais atenta nesse quesito, realizava rapidamente à venda. Todas as manhãs, lá estavam os dois a “tocar” o comércio na movimentada Avenida Prefeito Rolando Moreira, quase em frente a Delegacia de Brasileia, quando acontecia algo sinistro na cidade, alguns curiosos aglomeravam em frente ao comércio para saber as novidades. Sem celular na época, a “rádio cipó” funcionava muito bem. Foram tempos áureos. Assim eles criaram os filhos, na “lida” diária. Mas, as águas vieram, uma, duas, três, quatro vezes… Cada vez mais intensa e as casas ruíram. O velho barranco não suportou e caiu, levando consigo sonhos, trabalho e esperança. O comércio foi para outro lugar, escondido de muitos. Até a Delegacia foi para outra cidade.
Mas, Beliro e Francisca continuaram tentando refazer os sonhos. Comerciantes, eles nunca desistiram de lutar. Mas, a vida muitas vezes é implacável e levou para os braços do pai meu amigo Belirio. Deixando uma tristeza profunda no seio familiar.
Amiga da sua filha, Edilene, “Inha” como carinhosamente a chamo até hoje, recordo com saudades das conversas, do café que eu tomava ao retornar da missa, pela manhã, com sua família. Ele sempre me chamava de professora, com um sorriso tímido no rosto e um olhar acolhedor. Ele era família, amava-a com uma intensidade que transparecia em seu olhar. O ano era 2000, eu estava passando por uma situação emocional difícil e me sentia acolhida, abraçada por “Seu” Belirio e por sua família. Hoje, olho para trás e lembro do quanto foram importantes naquele tempo. O apoio foi essencial para que eu seguisse em frente.
Seu Beliro foi um grande homem, um marido dedicado, um pai exemplar e um avô “derretido” pelos netos.
Minha homenagem a esse grande homem que conheceu o tempo glamouroso e a decadência do comércio da rua da frente.
Beliro deixou saudade no coração dos amigos e familiares que aprenderam a conviver com um homem que nunca perdeu a esperança. Que lutou bravamente por sua saúde até o fim.
Obrigada Seu Belirio e família, por terem estendido a mão no momento em que eu mais precisava.
Descansa em paz!