fonte: revista oeste news
“Professor humilha aluno em escola em São Paulo”, “Estudante diz ser de direita, declara voto em Bolsonaro e é perseguida”. Manchetes como essas tornaram-se frequentes em veículos de comunicação independentes, sobretudo depois da chegada de Bolsonaro à Presidência e do surgimento da nova direita.
Perseguição, ataques verbais e até violência física viraram práticas comuns contra os alunos que abandonam a chamada “espiral do silêncio”. O problema tem uma raiz: a dominação das faculdades pela esquerda, que ocorreu durante o regime militar. A explicação é do ex-ministro da Educação (MEC) Ricardo Vélez Rodriguez. Ele sentiu na pele a força dos “progressistas” e deixou o cargo apenas três meses depois de assumí-lo. “O MEC é um monstrengo”, afirmou.
No curto período em que permaneceu na pasta, Vélez elaborou algumas estratégias para dar mais “qualidade à educação e torná-la plural”. Diferentemente da imagem vendida pelo consórcio de imprensa, o professor colombiano de 79 anos naturalizado no Brasil é mais técnico do que ideológico. Entre outras propostas, como melhorar os ensinos fundamental, básico e técnico, Vélez queria enfraquecer a influência da esquerda nas federais mudando o critério de indicação de reitores “sugeridos por sindicatos”.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
O recém-empossado ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, na cerimônia em que recebeu o então secretário estadual de Educação de SP, Rossieli Soares – 02/01/2019 | Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
— Como a esquerda dominou as universidades brasileiras?
Foi durante o regime militar, na década de 1960. Derrotada, a esquerda refugiou-se nas cátedras e o governo nada fez para impedi-la. Em vez disso, combateu as guerrilhas no campo e aqueles que estavam na direita, evidentemente um erro de estratégia. Dessa forma, os “progressistas” dominaram a intelectualidade usando as técnicas do escritor marxista Antonio Gramsci. Quando os generais saíram do poder, só havia a esquerda, que já dominava praticamente todo o sistema público de ensino, além de outros setores da sociedade. As nossas atuais mazelas vêm daí. Lembro-me de um exemplo: já na década de 1970, fazia-se um esforço na PUC-Rio, onde eu estudei, para extirpar textos de cunho conservador-liberal. Uma tragédia. Temos de tirar as universidades das garras da esquerda.
— De que forma é possível furar essa “bolha”?
Quando assumi o MEC, elaborei um plano de gestão de universidades federais. Isso porque tomei conhecimento de que a lista tríplice de indicação de reitores que o MEC recebe é totalmente influenciada pela Central Única dos Trabalhadores. Então, propus mudar o método de eleição e me baseei no modelo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Os dirigentes do ITA são escolhidos por uma comissão de professores experientes, que leva em conta o currículo do sujeito. O colegiado escolhe os cinco melhores, sabatina o pessoal e seleciona três. Esses nomes, então, chegam ao MEC, que encaminha ao presidente da República para a palavra final. Só a mudança desse mecanismo de gestão ajudaria. Em cinco anos, teríamos o campo areado.
— O que os alunos conservadores, e os que são perseguidos, podem fazer?
Estudar bastante e procurar juntar-se a outros que pensam parecido. Hoje, existem mais associações de jovens que se dedicam a estudar conteúdos diferentes dos oferecidos por acadêmicos engajados. Quanto ao âmbito federal, o MEC tem o dever de amparar essas pessoas e não se furtar da obrigação de formar novos professores que respondam aos anseios da sociedade. Os brasileiros estão cansados de métodos que não dão certo, como o de Paulo Freire. Além disso, a pasta precisa aproximar-se das famílias dos estudantes, sobretudo desses que passam por situações de perseguição, e encorajar o surgimento de agremiações que destoem do pensamento mainstream.
— Fala-se muito sobre o MEC, mas pouco se sabe sobre ele. Como a pasta funciona?