Em agosto, a Polícia Federal deflagrou uma Operação Anjos da Guarda, que desarticulou uma organização criminosa que planejava resgatar líderes do PCC dos presídios federais de Brasília e Porto Velho.
Marcola estava entre os presos que seriam resgatados. Além deles, também estavam Valdeci Alves dos Santos, o Colorido, E Cláudio Barbará da Silva.
De acordo com PF o plano para resgatar os líderes do PCC contava com uma rede de comunicação que passava por advogados. Eles transmitiam as mensagens entre os presos e os envolvidos no resgate através de códigos que remetiam a situações jurídicas jamais existentes
Além da interceptação telefônica, a Justiça autorizou a captação das conversas no parlatório dos presídios e escutas ambientais. No áudio de uma visita ocorrida em abril, que o site o Antagonista teve acesso, Marcola reclama com a esposa das condições carcerárias, que, segundo a PF, estariam dificultando o planejamento de uma eventual fuga.
“Aqui tá pior, tô sendo oprimido de verdade aqui”, relata Marcola. Ao responder, Cynthia relaciona seu possível retorno à capital federal ao atual processo eleitoral e cita uma obra realizada no presídio. “Então, você vai ficar aqui provavelmente até a eleição, trocou o governo cê volta (sic) passando as eleições, você deve voltar para Brasília porque o muro que fizeram lá era por causa de você.”
Na sequência, o criminoso relata que, mesmo não estando em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), foi isolado na carceragem de Porto Velho para evitar o envio e o recebimento de mensagens de fora da cadeia. “Os caras tiraram todo mundo do pavilhão e deixaram só eu, sozinho. Eu tô sozinho entendeu (…) Eu não tô em RDD, eu tô no pavilhão normal sozinho, tiraram 50 caras.”
Antes disso, em maio de 2021, quando ainda estava no presídio da Papuda, em Brasília, a PF captou outra conversa de conteúdo político entre Marcola e seu comparsa Cláudio Barbará da Silva. Na conversa, segundo relatório da polícia, o líder do PCC diz que “é melhor o Lula no poder, mesmo ele sendo um pilantra e um zero à esquerda, que o Bolsonaro, porque ele é muito ligado com as polícias e a milícia”.
A preferência dos criminosos pelo líder da esquerda como presidente é explicitada em outra conversa captada pela Polícia Federal entre Marcola e Esdras Augusto do Nascimento Júnior. “Se colocar um do lado do outro, o Lula é melhor que ele para nós. Se for analisar mesmo, jogar os dois numa sacolinha e balançar. Se abrir ela, você não sabe qual que é a merda que tá ali”, afirma Esdras.
“Ah, mas… para nós o Bolsonaro é pior (…) O Lula é ladrão mesmo, pilantra entendeu… só que é o seguinte, irmão. Essa fita do Covid mesmo, o Bolsonaro deu uma mancada. Bolsonaro é parceiro da política, da milícia. Cara é sem futuro. O Lula também é sem futuro, só que entre os dois, não dá nem para comparar um com o outro“, diz Marcola.
“Todo mundo sabe que o Lula é ladrão. Tem que sair fora mesmo desse arrombado aí (Bolsonaro). Ele e os filhos dele”, acrescenta.
Esdras diz ainda que, se Lula ganhar, “vai dar uma embaçada nesses filhos dele”. “Vai mudar a (Polícia) Federal, mudar o jeito dele, fazer o tabuleiro dele. Vai embaçar mesmo na vida do Bolsonaro e da família dele.”
Marcola, então, lembra ação que contestou no Supremo a limitação de visitas íntimas nos presídios. “A gente perdeu, mas foi o PT que fez, tá ligado.” Esdras corrobora: “O PT tem um pezinho no…”. “Quer dizer… se o Lula ganhar, dá para ir para cima desses caras aí pedindo alguma coisa”, diz o líder criminoso ao colega.