colunista: Ivana Cristina
Colaboração: Jaciane Petter
Ícones de Brasileia e Epitaciolândia
O galo ainda não tinha cantado e ele já estava na “lida”. Era um “ofício” que amava. Quem não se recorda do sorriso tímido no rosto, a vender o leite fresquinho nas lindas manhãs ensolaradas, nas ruas de Brasileia? Lá estava ele, com o seu inseparável chapéu de palha na cabeça, vendendo o leite “da melhor qualidade” que o município já viu! Como esquecer da brisa da manhã aos domingos, que invadia nosso rosto, ao simples fato de estar no Recanto Dom Bosco e tocar aquela água quentinha, contemplar os peixes, ávidos por um punhado de ração, que Seu Zé gentilmente colocava nas mãos das crianças, para alimentar-los! Como esquecer dos deliciosos almoços de domingo, regados a galinha caipira, diretamente “da fazenda”, como diziam alguns, no Restaurante do Recanto Dom Bosco! Seu Zé, como era conhecido o Senhor José Correia, nos recebia com um sorriso tímido, o mesmo sorriso que eu vejo expresso no rosto da sua filha Jaciane. Tinha um olhar de boas vindas tão cativante que não tinha como ir embora. José Correia era um homem simples, trabalhador e de poucas palavras, mas muito acolhedor. Quando gostava de uma pessoa, faltava tempo para tantos assuntos. E conversava sobre todos os assuntos, principalmente, a vida cotidiana, o tempo, o clima… Era professor de Matemática, mas, qualquer outra função que exercesse, fazia com competência. Era um exemplar pai de família, daqueles que gostava de ver todos reunidos. Tinha ao seu lado, não só uma esposa, mas uma grande companheira, Professora Zeli. Os dois se completavam. Bastava um olhar para saber o que o outro estava sentindo, não precisavam de palavras, somente de um olhar. Seu Zé era religioso, daquele fervoroso, quando eu ia às missas aos domingos pela manhã, sempre o via, o “Benzinho”(como até hoje, a Dona Zeli carinhosamente, o chama) sentado no banco do meio, do lado direito, perto da porta, seu lugar preferido na Igreja Católica Nossa Senhora das Dores. Uma vez, recebi a visita dos dois em minha casa(estavam organizando o ECC). E nas poucas palavras que ele pronunciou, ficou armazenada em minha memória:”O verdadeiro amor de um casal é a liberdade um do outro; não adianta prender um passarinho, se ele quer voar, mas, se mesmo com liberdade, ele permanecer ao seu lado, isso é amor”. Levo esse aprendizado para a vida. Um homem sábio! Um homem apaixonado pela família! Um homem apaixonado pelos jogos da seleção brasileira! Um homem apaixonado pela vida no campo. E era no Recanto Dom Bosco que ele “recarregava” as suas energias. Nas tardes mansas, deitado em sua rede, “Seu” Zé contemplava a natureza ao seu redor. E como era bela, a presença dele enchia o lugar de alegria.
É triste saber que ele se foi! Que deixou um vazio imenso no coração dos amigos e familiares. Mas, deixou uma certeza que a bondade, o amor e a amizade podem caminhar lado a lado. Basta se permitir! “Seu” Zé, o Recanto Dom Bosco sem você, nunca mais foi o mesmo. Resta apenas lembranças de um lugar que era cheio de risos, de conversas, de histórias, de memórias olfativas e degustativas.
A Professora Zeli Correa e família minha admiração e respeito.