Reportagem: Helizardo Guerra
O Natal e o fim deste ano não serão como nos anos anteriores para parte dos servidores municipais de Epitaciolândia. A afirmação, feita por um servidor recentemente demitido, resume um sentimento coletivo marcado por surpresa, indignação e profunda insegurança. “Não houve aviso, não houve conversa. Apenas o desligamento”, relata.
Sem choro alto ou velas acesas, o que se vê no município é um verdadeiro coral de lamentações silenciosas que ecoa pelos quatro cantos da cidade — das ruas centrais aos ramais mais distantes. O clima é de tristeza, revolta e incompreensão entre aliados, colaboradores e servidores que, de forma espontânea, passaram a manifestar o descontentamento diante das recentes demissões promovidas pela atual gestão municipal.
O chamado “chororô”, termo recorrente nas rodas de conversa, vai além da perda do emprego. Ele nasce do sentimento de desrespeito e abandono institucional. Para muitos dos desligados, o impacto não é apenas financeiro, mas profundamente simbólico: anos de serviço prestado interrompidos de forma abrupta, sem comunicado prévio, sem diálogo e sem qualquer alternativa apresentada.
“Não pedimos privilégio, pedimos respeito”, afirma outro servidor, que diz ter sido surpreendido com a notícia quando já organizava compromissos de fim de ano. O corte repentino comprometeu planos familiares básicos, como alimentação, pagamento de contas essenciais e até a própria ceia natalina — realidade que contrasta com o discurso de estabilidade frequentemente associado ao serviço público.
Nos bastidores da administração, a versão oficial tenta atribuir contornos técnicos à decisão. Segundo fonte ouvida de dentro da própria prefeitura, a medida não teria partido exclusivamente do gestor municipal. A determinação teria sido motivada por apontamentos do Tribunal de Contas do Estado do Acre, que alertou para o estouro do limite legal de gastos com pessoal, conforme estabelece a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, é o marco que rege o controle das finanças públicas no país, impondo limites claros para despesas com pessoal e prevendo sanções aos gestores que descumprem esses percentuais. Diante do alerta, a gestão teria sido obrigada a agir em caráter de urgência — quase emergencial — para evitar penalidades administrativas mais severas. Oficialmente, a narrativa sustenta que as demissões seriam inevitáveis para readequar os índices exigidos por lei.
Ainda assim, o argumento técnico não apaga a crítica central levantada pelos demitidos: por que o ajuste recaiu, mais uma vez, sobre os mesmos? Por que não houve planejamento prévio, comunicação transparente ou a adoção de medidas graduais que evitassem o impacto direto sobre famílias inteiras às vésperas das festas de fim de ano?
A situação se agrava diante de outra informação preocupante: segundo a mesma fonte, os repasses financeiros enfrentam dificuldades a ponto de não garantir, sequer, o pagamento integral dos servidores efetivos. Parte dos salários teria sido quitada, enquanto outra parcela deverá aguardar, sem prazo definido, aumentando ainda mais o clima de incerteza e apreensão dentro do funcionalismo.
Enquanto relatórios, percentuais e números justificam decisões dentro dos gabinetes, nas ruas permanece o sentimento de injustiça. Em Epitaciolândia, o choro não precisa de vela nem de discurso político. Ele segue vivo na voz embargada de quem perdeu o sustento e ainda tenta compreender por que, mais uma vez, a crise administrativa termina batendo à porta de quem menos decide — e mais sente.