‘Pacheco prometeu pautar a CPMI do Crime Organizado’

Nacional
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fonte: revista oeste news

O plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) de assassinar políticos e autoridades brasileiras trouxe à superfície um problema que permaneceu nas sombras durante décadas: a ascensão das facções criminosas. Esses grupos lideram as estatísticas de roubo, sequestro, tráfico de drogas e assassinato.

Investigações dos governos federal e estaduais mostram que as facções fincaram suas raízes em diferentes solos — nos becos, nas vielas e nas quebradas, mas também em mansões e em apartamentos de alto padrão. Há 53 facções atuando nas 27 unidades da Federação.

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) contabiliza pelo menos 35 mil integrantes no PCC — maior facção criminosa das Américas. Eles se somam aos membros do Comando Vermelho, da Amigo dos Amigos, do Terceiro Comando Puro, do Primeiro Comando de Vitória e do Trem Bala.

Para impedir a ascensão das facções, o deputado federal Coronel Meira (PL-PE) propôs a instauração da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Crime Organizado. Até o momento, 31 senadores e 90 deputados se manifestaram favoráveis à medida. “A CPMI deve ser pautada entre 11 e 14 de abril”, revelou Meira, em entrevista a Oeste. “O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, garantiu que vai pautar a CPMI. Precisamos apenas reunir as assinaturas necessárias.”

Na entrevista, Meira explicou os detalhes da comissão e propôs medidas para neutralizar as facções criminosas. A seguir, os principais trechos.

Os partidos de esquerda apoiam a CPMI do Crime Organizado?

Por qual motivo o PT não apoiaria a comissão? Há provas de que o PCC queria assassinar Moro. Acompanhe meu raciocínio: o senador é um representante do Congresso. Por isso, não concordar com a investigação seria uma prova cabal da ligação do PT com o crime organizado. Hoje, temos as assinaturas de 31 senadores. Queremos apurar o que aconteceu no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. Nosso desejo é passar a limpo essas histórias. Eduardo Bolsonaro, Bia Kicis, Carla Zambelli e Deltan Dallagnol apoiam a iniciativa. Mais de 90 deputados federais assinaram a CPMI. Conseguimos essas assinaturas em apenas um mês. Não preciso ser o presidente da comissão. Gostaria que um senador fizesse esse papel, porque pertence à Casa mais importante. Mas não abro mão da relatoria. O delegado Alexandre Ramagem e o deputado Deltan Dallagnol me ajudarão nessa. Minha ideia é ter três relatores.

Como o senhor pretende convencer os partidos de esquerda a mudarem de opinião sobre a CPMI?

Vou tirar onda na tribuna da Câmara. Pretendo convocar os partidos de esquerda e perguntar: “Amigos, vocês são a favor do crime organizado? Não? Então, venham passar a limpo esse assunto”. A CPMI será apartidária. Dallagnol é de um partido, Eduardo Girão é de outro. Temos diversos partidos favoráveis à comissão. Mas não há ninguém do PCdoB, do PT e do PSDB. A politização é um dos grandes problemas do país. Sem segurança pública, a vida acaba. Quebra a economia, acaba tudo. Do jeito que está, vamos terminar como a Colômbia. É o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos que está em jogo. As famílias estão sendo destruídas pelas drogas. Não há lugares seguros. No Rio Grande do Sul, a situação é relativamente controlada. No Norte e no Nordeste, entretanto, é mais difícil. Bahia, Sergipe, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Piauí e Amazonas enfrentam problemas gravíssimos.

A possibilidade de aprovação da CPMI é alta?

Tenho esperanças. A Câmara mudou. O Senado mudou. Conseguiremos as assinaturas para instaurar a comissão — tenho certeza disso. Já imaginou, em qualquer outro momento da história brasileira, 31 senadores botarem a digital numa CPMI contra o crime organizado? Isso é sério. É excelente. Vamos dar um presente à população. A CPMI deve ser pautada entre 11 e 14 de abril. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, garantiu que vai pautar a CPMI. Precisamos apenas reunir as assinaturas necessárias [o número mínimo é de 27 senadores e 171 deputados].

Quais são os principais tópicos da CPMI?

Em primeiro lugar, vamos propor a montagem de um banco de dados sobre o crime organizado. Os deputados federais de todos os Estados, a Polícia Militar e a Polícia Civil vão trocar informações. Assim, será possível entender onde as facções atuam e como operam. Hoje, a Polícia Civil, a Polícia Militar e a Polícia Federal atuam sem integração. Nossa ideia é concentrar as informações e mapear os bandidos, porque o crime é, de fato, organizado. O segundo ponto são os presídios. É preciso discutir esse assunto. Os bandidos comandam o crime organizado de dentro das prisões. Isso precisa acabar. Se tiver de mudar as leis, mudaremos. Se precisar acabar com a saída temporária, acabaremos. Se precisar cortar o banho de sol dos presos, cortaremos. Precisamos tratar de forma digna o cidadão de bem, que trabalha para ganhar dinheiro. E, claro, temos de prender os bandidos. Eles não merecem ter banho de sol, visita íntima nem telefone. É necessário fortalecer as leis e não permitir que os bandidos saiam da cadeia.

Qual medida política seria capaz de neutralizar o crime organizado?

No Brasil, existe um sério problema: temos o Ministério da Saúde, responsável pela saúde, e temos o Ministério da Educação, que cuida da educação. Mas qual ministério atende às necessidades da segurança pública? Isso não é dever do Estado? A segurança pública é fatiada, justamente para que não haja união de esforços. Um pedaço da segurança pública do país está no Ministério da Justiça. Outro está na Defesa. Outro ninguém sabe onde está. A quem pertence as Guardas Municipais? Elas são fundamentais. As Guardas Municipais são o primeiro ente armado e fardado dos municípios. Elas sabem quem é das cidades e quem é de fora. As Guardas Municipais podem estar sob o comando de prefeitos, mas é preciso ter um comando maior na área técnica. Temos de criar o Ministério da Segurança Pública. Nessa pasta atuariam a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Federal Penal, as Polícias Militares e as Guardas Municipais. Isso é fundamental. O crime é organizado. E a gente? É absurda a quantidade de dinheiro investido no combate ao crime organizado no país [R$ 3,3 bilhões nos últimos quatro anos]. Se tivéssemos um planejamento melhor, poderíamos economizar 30% desse valor. O excedente seria usado para construir creches e escolas, por exemplo.